domingo, 29 de janeiro de 2012

BEM AVENTURADO OS "PASTORES IDIOTAS"


As bem-aventuranças dos "pastores idiotas".


Por Geremias do Couto

Bem-aventurados
 sois vós, "pastores idiotas", quando fordes xingados com este epíteto simplesmente por acreditardes no que disse Jesus: "Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem consomem, e onde os ladrões minam e roubam" (Mateus 6.9). Tal ato insano, ao invés de vos maldizer, mostra que ainda estais firmes na verdade.

Bem-aventurados sois vós, "pastores idiotas", que não sucumbistes aos "encantos" da teologia da prosperidade por compreender que "os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína" (1 Timóteo 6.9). Não vos entristeçais, nem penseis que estais sozinhos. Há muitos outros "idiotas" convosco, inclusive o apóstolo Paulo.

Bem-aventurados sois vós, "pastores idiotas", por não vos curvardes aos arautos que vos maltratam em virtude de crerdes que aos ricos deste mundo a Palavra de Deus ordena: "Não sejam altivos, nem ponham a esperança na incerteza das riquezas" (1 Timóteo 6.7). Tal maldição é, na verdade, um reconhecimento de que pondes a vossa confiança não nas riquezas desta vida, mas na abundância que vos é dada para a glória de Deus.

Bem-aventurados sois vós, "pastores idiotas", que resistis aos apelos dos que vos querem enredar com o brilho do ouro que perece, porque vós bem sabeis que é vosso dever continuardes a ensinar às suas ovelhas "que façam o bem, enriqueçam em boas obras, repartam de boa mente, e sejam comunicáveis" (1 Timóteo 6.18). Saibais que outros "pastores idiotas" iguais a vós foram já recebidos na glória e aguardam o precioso galardão.

Bem-aventurados sois vós, "pastores idiotas", porque não perdestes a visão da semeadura e, por isso mesmo, sabeis que não se ganham almas com o glamour das riquezas humanas, mas com a sementeira do evangelho. Sem esquecerdes da advertência da parábola do semeador, que diz: "Os cuidados deste mundo, e a sedução das riquezas sufocam a palavra, e fica infrutífera" (Mateus 13.22).

Bem-aventurados sois vós, "pastores idiotas", por não perfilardes o triunfalismo da pregação humanista, centrada no homem, que enriquece a quem prega e defrauda a quem ouve. Ainda que vos pareça estardes "fora do modelo contemporâneo", alegrai-vos porque continuais apegados ao modelo bíblico, que diz: "Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo" (Gálatas 6.14).

Bem-aventurados sois vós, "pastores idiotas", que embora injuriados pela vossa pregação "arcaica", ainda carregais no bolso do vosso coração a credencial de servo do Altíssimo, enquanto alguns já a trocaram pelas credenciais de semideus, arrogante e soberbo e usam-na ao sabor das circunstâncias para se locupletarem em cima da lã de suas ovelhas.

Bem-aventurados sóis vós, "pastores idiotas", que, enquanto alguns voam os céus do mundo em modernos jatinhos, trafegam as grandes avenidas em luzentes automóveis e se deleitam nos mármores de grandes mansões, o vosso prazer é estar junto das ovelhas, alegrardes com elas e, se preciso for, dar por elas a vossa própria vida. Não vos esqueçais que outros "idiotas" iguais a vós se encontram já no Reino do Pai.

Bem-aventurados sois vós, "pastores idiotas", que preferis o "prejuízo" da coerência, da fidelidade a toda prova aos princípios imutáveis da Palavra de Deus, do que sucumbirdes - ainda que tentados - às lentilhas que se vos oferecem para amenizar eventuais necessidades imediatas. Mais vale o pão dormido da consciência tranquila do que os banquetes da consciência aprisionada.

Bem-aventurado sois vós, "pastores idiotas", pelo modo como sois tratados por amor do nome do Senhor e por não vos enredardes pelo brilho passageiro da glória humana. Não sois melhores por isso, mas também não sois piores. Todavia, enchei o vosso coração de alegria porque o vosso nome faz parte da galeria dos heróis da fé que professam somente a Cristo e têm Deus como o bem maior da vida. Tende como lema o que Paulo ensinou: "Regozijai-vos sempre no Senhor; outra vez digo, regozijai-vos" (Filipenses 4.4).

NÃO SOMOS DIFERENTES DA IGREJA PRIMITIVA


NÃO SOMOS DIFERENTES DA IGREJA PRIMITIVA


Por Silas Figueira

Em seu livro A Mensagem de Atos, John Stott falando a respeito da Igreja Primitiva nos chama a atenção à forma como temos olhado para aquela Igreja. Ele diz que “existe o perigo de romantizarmos a igreja primitiva, falando dela em tom solene, como se não tivesse falhas. Isso significa fechar os olhos diante das rivalidades, hipocrisias, imoralidades e heresias que atormentavam a igreja, como acontece ainda agora”.1 Quantos de nós temos visto a Igreja Primitiva como o maior exemplo a ser seguido. A impressão que temos é que não havia problemas entre eles, principalmente quando lemos Atos 2.42-47, mas estudando mais a fundo o livro de Atos, as cartas Paulinas tanto quanto as cartas universais, encontramos uma igreja lutando contra o pecado (Cl 3.5-11), contra falsos mestres (Gl 3.1-3; Tt 1.10,11), heresias das mais diversas (1Tm 6.3-5), lutas internas (1Co 1.11-13), apostasia (1Tm 4.1). Cerca de sessenta anos após a Igreja ter sido inaugurada em Jerusalém no dia de Pentecostes, encontramos o apóstolo João na Ilha de Patmos tendo a revelação do Apocalipse e recebendo uma ordem direta de Jesus para escrever às sete igrejas da Ásia mostrando o quanto a igreja havia se afastado da sã doutrina (Ap 1.9-11). E o que o apóstolo João escreveu naquela época serve de alerta para todos nós nos dias de hoje, pois a igreja não mudou.

É bom lembrar que antes de Jesus manifestar Seu juízo ao mundo, Ele irá manifestar à Sua igreja, como nos fala Pedro em sua primeira carta: “Porque a ocasião de começar o juízo pela casa de Deus é chegada; ora, se primeiro vem por nós, qual será o fim daqueles que não obedecem ao evangelho de Deus?” (1Pe 4.17). Cristo não está no meio da Igreja, mas Ele está andando em ação investigatória no meio da Igreja. Ele sonda a Igreja, pois seus olhos são como chama de fogo como vemos no livro do Apocalipse.

Será que alguma coisa mudou de lá para cá? Creio que não. Assim como a igreja do primeiro século enfrentou os seus hereges, hoje nos estamos enfrentando os nossos. Hoje nós temos os nossos Hereges Tupiniquins, com suas meias ungidas, seu apego a Mamom, suas superstições típicas de povos primitivos sem conhecimento profundo do assunto e recorrendo a explicações concretas e simplicistas de verdades espirituais profundas e reveladas pelo Espírito Santo, de suas brigas santas entre si, como místicos na disputa de mostrar-se mais santo e mais poderoso, fora os que estão surgindo e os que em breve substituirão os atuais. Engana-se quem pensa que isso irá acabar que eles serão extintos. Enquanto Jesus não vier buscar a Sua Igreja essas hidras continuarão seduzindo e empedrando os seus ouvintes. Como disse Paulo a Timóteo em sua segunda carta ao seu filho na fé: “Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas” (2Tm 4.3,4).

A igreja não é perfeita porque ela está cheia de homens imperfeitos. Não quero dizer com isso que não devemos lutar contra o mal que se instala ou tenta se instalar dentro dela, pelo contrário, devemos abrir a nossa boca e alertar contra os falsos erros e falsos mestres que tem se levantado dentro dela. O apóstolo Paulo deixa isso bem claro em sua carta a Tito: “É preciso fazê-los calar, porque andam pervertendo casas inteiras, ensinando o que não devem, por torpe ganância” (Tt 1.11). Devemos agir também como Judas que em sua carta alertou a igreja dos falsos pastores. Judas em sua epístola diz que queria escrever a cerca da comum salvação, mas foi forçado pelas circunstâncias escrever uma carta de alerta. Diz ele a respeito dos falsos mestres que estavam se levantando dentro da igreja em sua época:“Estes, porém, quanto a tudo o que não entendem, difamam; e, quanto a tudo o que compreendem por instinto natural, como brutos sem razão, até nessas coisas se corrompem. Ai deles! Porque prosseguiram pelo caminho de Caim, e, movidos de ganância, se precipitaram no erro de Balaão, e pereceram na revolta de Corá. Estes homens são como rochas submersas, em vossas festas de fraternidade, banqueteando-se juntos sem qualquer recato, pastores que a si mesmos se apascentam; nuvens sem água impelidas pelos ventos; árvores em plena estação dos frutos, destes desprovidas, duplamente mortas, desarraigadas ondas bravias do mar, que espumam as suas próprias sujidades; estrelas errantes, para as quais tem sido guardada a negridão das trevas, para sempre”.(Jd 10-13). Quer mais atualidade que isso?

Devido a essas e outras heresias desses falsos mestres, muitas pessoas estão deixando a igreja. Algumas estão passando a servir a Cristo em casa ou se reunindo em lares como se o problema estivesse na instituição e não nas pessoas. Aí surgem os desigrejados, os destemplados... Cada um com um termo diferente, mas que no fim é a mesma coisa. Eugene H. Peterson nos diz que vivemos uma época em que se respira muito desse anti-institucionalismo. “Amo Jesus, mas odeio a igreja” é um tema que fica reaparecendo com variações em muitos contextos. Jesus dizia “siga-me”, e depois dirigia seus seguidores a duas estruturas religiosas e institucionais primordiais de seu tempo: a sinagoga e o templo. Nenhuma dessas instituições era desprovida de deficiências, faltas e fracassos.2

Creio que o problema maior que enfrentamos na igreja brasileira seja o fato de sermos uma mistura de várias etnias e religiões. Somos uma mistura de índios, portugueses e negros. Fora outros povos que vieram para cá. Cada um com a sua religião, com seus hábitos. E nesse caldeirão deu um povo místico, voltado para o espiritual sensorial e a igreja evangélica não ficou de fora disso. Como disse Augustus Nicodemos Lopes: “somos evangélicos moldados por uma argamassa meio católica, meio espírita e pouco ou nada reformada”.3Essa é a razão porque aflora tanto misticismo e tanto sincretismo religioso em nosso meio. Por isso temos o sal grosso, a rosa ungida, água consagrada... As igrejas que não se vendem a esse sincretismo, geralmente, são igrejas pequenas, mas voltadas para a sã doutrina, para um evangelho puro e simples. Dificilmente você encontra um “desigrejado” ou “destemplado”de igrejas sérias, a maioria das pessoas que se revoltaram contra as instituições são pessoas decepcionadas com esse sincretismo que tem levado muitas delas, e porque não dizer a maioria, ao fracasso espiritual, pois se decepcionam com seus líderes, quando não saem decepcionadas com Deus. Daí essas pessoas botarem todas as instituições no mesmo saco e dizerem que são todas iguais. Não creio que vamos achar muito apoio em Jesus para a preferência de nossos dias pela praça de alimentação dos shoppings como lugar de culto em detrimento da Primeira Igreja Batista da cidade, disse Eugene H. Peterson4, questionando essa ideia que tem aflorado o coração dos decepcionados.

Eu sei que não tem sido nada fácil para aqueles que pregam a sã doutrina ouvirem tantas aberrações em nome de Cristo. Principalmente por vermos tantas pessoas sendo enganadas e sendo levadas para o matadouro desses espertalhões da fé. Mas quem disse que seria fácil? Quem disse que não teríamos e viveríamos tempos trabalhosos? O apóstolo Paulo já havia alertado a Timóteo, “Ora, o Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios” (1Tm 4.1). Não é porque muitos têm abandonado o barco que nós também o abandonaremos. Eu amo a Igreja e vou continuar lutando por ela, as instituições não são perfeitas, mas também não é fora dela que encontraremos a perfeição. Essa perfeição nós só encontraremos quando chegarmos à Glória preparada para os eleitos antes da fundação do mundo.

Tanto a Igreja Primitiva quanto a Igreja de Hoje são iguais em seus erros quanto nos acertos, e se chegamos até aqui é porque até aqui nos ajudou o Senhor, pois sem Ele há muito tempo a Igreja já teria afundado no lamaçal do pecado. No entanto é o Senhor quem sustenta a Sua Igreja e nós fazemos parte dela, com seus erros e com seus acertos.

Eu quero concluir com uma palavra de Eugene H. Peterson: “Quando Jesus diz “Segue-me” e seguimos, as pessoas vão continuar a nos ver entrando em nossas igrejas e trabalhando para nossas organizações missionárias. Mas elas não enxergam, e nós não enxergamos as imensas invisibilidades em que estamos afundando nossas raízes, a infindável atmosfera acima de nós, também invisível, da qual recebemos a luz da vida, nossa vida estendendo-se, estendendo-se, estendendo-se até as profundidades, estendendo-se através do horizonte, estendendo-se até as alturas” 5.

Que a graça do Senhor continue sustentando a Sua Igreja, fazendo-a criar raízes profundas e que os decepcionados com ela possam se reencontrar em um lugar onde a sã doutrina seja pregada com amor e dedicação. Esta é a minha oração. Este é o meu desejo.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Como as coisas mudam!!


Como as coisas mudam!!

2 de janeiro de 2012 | 



Certas palavras mudam completamente de sentido com o tempo. Se dissermos, por exemplo, que alguém é formidável, estamos dizendo que esta pessoa é incrível, maravilhosa. Certamente se dissermos numa igreja que a obra de Deus é formidável, seremos entendidos como alguém que exalta o nome do Senhor apropriadamente. Afinal, “formidável” é algo, enfim, formidável. Mas, inicialmente, “formidável” é algo que dá medo, assusta. 
“Galera” é outra palavra com sentido mudado. Hoje significando ajuntamento de pessoas, galera inicialmente era o navio movido a remada de escravos, coitados. 

Aliás, “coitado” também teve seu sentido alterado, de um significado chegando às raias do pornográfico (significava que alguém ficou “derrubado” depois de um período intenso de coito, ou seja, sexo) para algo tão pudico que pode ser dito na mesa do café da manhã junto com as crianças. 

“Evangélico” é uma palavra que foi mudada, e para pior. Quando me converti, há 24 anos atrás, o evangélico era alguém mais austero, não muito bem compreendido em uma sociedade de maioria católica, pois insistia em não cultuar santos e imagens. Era um sujeito honesto e que levava a sério a palavra empenhada. Evangélico era aquele que respeitava a família (sua e alheia), que não aceitava leviandades com o nome de Deus, e que se destacava nos estudos e no trabalho. É claro que havia aberrações, mas eram as exceções que confirmavam a regra. 

Hoje viramos motivo de piada. Evangélico, hoje, é o sujeito que fala que ama a Deus, mas que vira um animal desembestado na internet saindo em defesa de seus ídolos. Sim, evangélico hoje é idólatra. Mesmo que diga que não reverencia santos, é idólatra porque reverencia pecadores que fazem do discurso religioso seu comércio lucrativo. 

Evangélico é aquele que gosta de música brega, bem brega, capaz de corar Jane&Herondy, mas com letras com termos herméticos que só os iniciados compreendem. Evangélico hoje é aquele que não se preocupa com santidade da família, mas faz Terapia do Amor; não se importa tanto assim com trabalho, mas sonha com o toque mágico da unção da prosperidade, versão do sonho da mega-sena para aqueles que não jogam; não procura ser agente transformador da sociedade, antes se tornando um feliz cooptado por ela; não se empenha por estudar a Palavra, mas almeja uma revelação. 

Se antes evangélico se alegrava quando a Palavra de Cristo brilhava, hoje se alegra por seu artista gospel preferido estar na trilha sonora da novela. Ainda que nem todos os evangélicos sejam assim, o mau uso da palavra, através do ruidoso péssimo testemunho de alguns, atinge a todos.

É hora de retomarmos outra palavra usada para nos identificar. Devemos retomar nosso não-conformismo, nossa santa indignação, e tirar a poeira da palavra “protestante”. Resgatar seu sentido original na história, que era o de protestar contra a arbitrariedade do imperador Carlos, da Alemanha, que queria empurrar, goela abaixo, um cristianismo de rito romano, abandonando os avanços alcançados pelo movimento reformista iniciado por Lutero. 

Protestante é aquele que procura viver a vida de acordo com a Palavra, compreendida através da lente das “cinco solas” (só a graça, só a fé, só as Escrituras, só Cristo, glória só a Deus), descartando acréscimos. 

Protestante é aquele que entende que a soberania de Deus abarca também o Seu amor, e não é algo excludente. Protestante é aquele que entende que o seu primeiro mandato é o de redimir a cultura, para que possa refletir o caráter bondoso de Deus, que presenteou a humanidade com tanta gente de talento.

Protestante é aquele que entende que revelações extra-bíblicas são forjadas na ante-sala de belzebu, e que, por isso mesmo, precisa conhecer a fundo a fonte original, a Bíblia.

Enfim, protestante é aquele que não se deixa seduzir com o canto da sereia do mundo, antes procura amoldar-se à vontade de Deus. Portanto, prefiro ser esta metamorfose ambulante chamada de “protestante” a ser chamado de “evangélico”. 

Quero que minha vida glorifique a Deus, e não que envergonhe Seu nome. Quero ser alguém que traga a boa notícia de Jesus, e não alguém que aprisione outros pelo ferrolho desta religiosidade estéril. Quero ser portador da paz. Não quero ser “formidável”.