quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

ORIGEM HISTÓRICA DA FESTA DA CARNEVALE. E O REI MOMO.



A palavra carnaval deriva da expressão latina carne levare, que significa abstenção da carne. Este termo começou a circular por volta dos séculos XI e XII para designar a véspera da quarta-feira de cinzas, dia em que se inicia a exigência da abstenção de carne, ou jejum quaresmal. Comumente os autores explicam este nome a partir dos termos do latim tardio carne vale, isto é, adeus carne, ou despedida da carne; esta derivação indicaria que no carnaval o consumo de carne era considerado lícito pela última vez antes dos dias do jejum quaresmal - outros estudiosos recorrem à expressão carnem levare, suspender ou retirar a carne: o Papa São Gregório Magno teria dado ao último domingo antes da quaresma, ou seja, ao domingo da qüinquagésima, o título de dominica ad carnes levandas; a expressão haveria sido sucessivamente abreviada para carnes levandas, carne levamen, carne levale, carneval ou carnaval – um terceiro grupo de etmologistas apela para as origens pagãs do carnaval: entre os gregos e romanos costumava-se exibir um préstito em forma de nave dedicada ao deus Dionísio ou Baco, préstito ao qual em latim se dava o nome de currus navalis: de onde vem a forma carnavale.1

Segundo o historiador José Carlos Sebe, ao carnaval estão relacionadas as festas e manifestações populares dos mais diversos povos, tais como o purim, judaico, e as saturnálias e as caecas, babilônicas, manifestações que contribuíram muito para o carnaval atual.

A real origem do carnaval é um tanto obscura. Alguns historiadores assentam sua procedência sobre as festas populares em honra aos deuses pagãos Baco e Saturno. Em Roma, realizavam-se comemorações em homenagem a Baco (deus de origem grega conhecido como Dionísio e responsável pela fertilidade. Era também o deus do vinho e da embriaguez). As famosas bacanais eram festas acompanhadas de muito vinho e orgias, e também caracterizadas pela alegria descabida, eliminação da repressão e da censura e liberdade de atitudes críticas e eróticas. Outros estudiosos afirmam que o carnaval tenha sido, talvez, derivado das alegres festas do Egito, que celebravam culto à deusa Isís e ao deus Osíris, por volta de 2000 a.C.

A Enciclopédia Britânnica afirma: Antigamente o carnaval era realizado a partir da décima segunda noite e estendia-se até a meia-noite da terça-feira de carnaval2. Outra corrente de pensamento entende que o carnaval teve sua origem em Roma. Enquanto alguns papas lutaram para acabar com esta festa (Clemente, séculos IX e XI, e Benedito, século XIII), outros, no entanto, a patrocinavam.

A ligação desta festa com o povo romano tornou-se tão sólida que a Igreja Romana preferiu, ao invés de suspendê-la, dar-lhe uma característica católica. Ao olharmos para países como Itália, Espanha e França, vemos fortes denominadores comuns do carnaval em suas culturas. Estes países sofreram grandes influências romanas. O antigo Rei das Saturnais, o mestre da folia, é sempre morto no final das antigas festas pagãs.

Vale ressaltar que O festival Dionisíaco expõe em seu tema um grande contra-senso, descrito na The Grolier Multimedia. Enciclopédia, 1997: A adoração neste festival é chamada de Sparagmos, caracterizada por orgias, êxtase e fervor ou entusiasmo religioso. No entanto, seu significado é descrito no mesmo parágrafo da seguinte forma: Deixar de lado a vida animal, a comida dessa carne e a bebida desse sangue.

A origem do carnaval no Brasil

O primeiro baile de carnaval realizado no Brasil ocorreu em 22 de janeiro de 1841, na cidade do Rio de Janeiro, no Hotel Itália, localizado no antigo Largo do Rócio, hoje Praça Tiradentes, por iniciativa de seus proprietários, italianos empolgados com o sucesso dos grandes bailes mascarados da Europa. Essa iniciativa agradou tanto que muitos bailes o seguiram. Entretanto, em 1834, o gosto pelas máscaras já era acentuado no país por causa da influência francesa.

Ao contrário do que se imagina, a origem do carnaval brasileiro é totalmente européia, sendo uma herança do entrudo português e das mascaradas italianas. Somente muitos anos depois, no início do século XX, foram acrescentados os elementos africanos, que contribuíram de forma definitiva para o seu desenvolvimento e originalidade.

Nessa época, o carnaval era muito diferente do que temos hoje. Era conhecido como entrudo, festa violenta, na qual as pessoas guerreavam nas ruas, atirando água uma nas outras, através de bisnagas, farinha, pós de todos os tipos, cal, limões, laranjas podres e até mesmo urina. Quando toda esta selvageria tornou-se mais social, começou então a se usar água perfumada, vinagre, vinho ou groselha; mas sempre com a intenção de molhar ou sujar os adversários, ou qualquer passante desavisado. Esta brincadeira perdurou por longos anos, apesar de todos os protestos. Chegou até mesmo a alcançar o período da República. Sua morte definitiva só foi decretada com o surgimento de formas menos hostis e mais civilizadas de brincar, tais como o confete, a serpentina e o lança-perfume. Foi então que o povo trocou as ruas pelos bailes.

Símbolos carnavalescos

Como em qualquer manifestação popular, o carnaval também se utilizou de formas simbólicas para aguçar a criatividade do povo e, conseqüentemente, perpetuar sua história. As fantasias apareceram logo após as máscaras, por volta de 1835, dando um colorido todo especial à festa. Com o passar dos anos, as pessoas iam perdendo a inibição e as fantasias, que a princípio eram usadas como disfarce (por serem quentes demais), foram dando lugar a trajes cada vez mais leves, chegando ao nível que vemos hoje, de quase completa nudez. Independente das mudanças, os grandes bailes, portanto, permaneceram realizando concursos de fantasias, incentivando a competição entre grandes figurinistas e modelos.

Como já foi citado, o primeiro baile de carnaval no Brasil foi realizado em 1841, na cidade do Rio de Janeiro, e, desde então, não parou mais. No começo eram apenas bailes de máscaras e a música era a polca, a valsa e o tango. Havia também coros de vozes para animar a festa. Nota-se que nem sempre foi tocado o samba, mas modinhas. Os escravos contribuíram com o carnaval com um estilo de música chamado lundu, ritmo trazido de Angola. Tal ritmo, no entanto, por ser considerado indecente, limitava-se apenas às senzalas. Contudo, permaneceu durante todo o século XIX.

Com esta fusão de ritmos nasce o semba, uma expressão do dialeto africano quibundo. Essa expressão passou por uma culturação e se tornou o que chamamos hoje de samba. O samba se popularizou nos entrudos, pois em sua origem este ritmo não era propriamente música, mas uma dança feita nos quilombos. Todo este contexto histórico nos leva até os anos 20, ocasião em que nasce aquilo que hoje é chamado de a excelência do samba, ou seja, o samba de enredo.

O carnaval hoje conta com bailes de todos os tipos, como o baile à fantasia, baile da terceira idade, matinês para crianças, bailes de travestis, entre outros. Os embalos musicais destes bailes contam com o bater dos surdos e o samba é o ritmo predominante. Também toca-se axé music, um estilo baiano. No carnaval hoje não se dança mais, pula-se.

Desfiles das Escolas de Samba

Iniciou-se no começo do século XX com os blocos, mas somente nos anos 60 e 70 é que acontece no carnaval brasileiro a chamada Revolução Plástica, com a participação da classe média na folia e todos os seus valores estéticos e estilísticos, que viriam incrementar todo o contexto das escolas de samba.

Os desfiles das escolas de samba são, sem dúvida, o ponto alto do carnaval brasileiro, turistas vêem de todos os cantos e pagam pequenas fortunas para assistirem ao desfile. Outras tantas pessoas perdem noites de sono vendo a festa pela televisão.

A competição entre as escolas de samba é ferrenha, e não raro ocorrem brigas entre seus líderes (leia-se presidentes) durante a apuração dos resultados, pois os pontos são disputados um a um, para que, ao final, se saiba quem foi a grande campeã do carnaval.

Um detalhe importante. A oficialização do desfile das escolas aconteceu em 1935, com a fundação do Grêmio Recreativo Escola de Samba. Antes desta data, porém, mais precisamente em 1930, já se via desfiles nas ruas do Rio de Janeiro.

O carnaval e a igreja católica romana

Devido à sua origem pagã, e pelo fato de ser uma festa um tanto obscena, a relação entre a Igreja Romana e o carnaval nunca foi amigável. No entanto, o que prevaleceu por parte da igreja foi uma atitude de tolerância quanto à essa manifestação, até porque a liderança da igreja não conseguiu eliminá-la do calendário. A solução, então, foi: se não pode vencê-los, junte-se a eles. Daí, no século XV, a festa da carne, por assim dizer, foi incorporada ao calendário da igreja, sendo oficializado como a festa que antecede a abstinência de carne requerida pela quaresma: Por fim, as autoridades eclesiásticas conseguiram restringir a celebração oficial do carnaval aos três dias que precedem a quarta-feira de cinzas (em nossos tempos, alguns párocos bem intencionados promovem, dentro das normas cristãs, folguedos públicos nesse tríduo a fim de evitar que sejam os fiéis seduzidos por divertimentos pouco dignos). Como se vê, a igreja não instituiu o carnaval; teve, porém, de o reconhecer como fenômeno vigente no mundo em que ela se implantou. Sendo em si suscetível de interpretação cristã, ela o procurou subordinar aos princípios do Evangelho; era inevitável, porém, que os povos não sempre observassem o limite entre o que o carnaval pode ter de cristão e o que tem de pagão. Esta claro que são contrários às intenções da igreja os desmandos assim verificados. Em reparação dos mesmos foram instituídas adoração das quarenta horas e as práticas de retiros espirituais nos dias anteriores à quarta-feira de cinzas.3

José Carlos Sebe escreveu: Apenas no século XV, provavelmente movido pelo sucesso popular da festa, o Papa Paulo II a incorporou no calendário cristão. Aliás, Paulo II foi mais longe, chegando a patrocinar toda uma rica celebração antes do advento da Quaresma. Não apenas o carnaval popular foi organizado pelos papas. Paulo IV promoveu uma terça-feira gorda, um lauto jantar onde compareceu o sacro colégio romano, e o festim regado a vinho pôde ser considerado uma das primitivas celebrações em salão fechado.4

A tentativa da Igreja Católica Romana na cristianização do carnaval e sua atual justificativa é totalmente inconseqüente, infeliz e irresponsável. Não existe uma referência bíblica sequer favorável ao seu argumento. Pelo contrário. Existe todo um contexto bíblico explicitamente contrário à essa manifestação popular. Todos os especialistas cristãos sabem muito bem quando devem aplicar a transculturação cristã em determinada manifestação cultural (como exemplo, o Natal, período em que ocorre a mudança do objeto de culto e a extirpação total da velha ordem, transformação das simbologias e referências). Sabem também quando à determinada comemoração popular é impossível aplicar quaisquer processos de cristianização.

O carnaval é um exemplo real da sobrevivência do paganismo, com todos os seus elementos presentes. É a explicita manifestação das obras da carne: adultério, prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes. O apóstolo Paulo declara inequivocamente que os que cometem tais coisas não herdarão o reino de Deus (Gl 5.19-21).

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

UMA ALTERNATIVA PARA O MARXISMO Osvaldo Luís Golfe

ANTÔNIO GRAMSCI:
UMA ALTERNATIVA PARA O MARXISMO

Osvaldo Luís Golfe
  

INTRODUÇÃO

Depois do desmantelamento da estrutura comunista, assistimos a uma grande crise de ideais, ou, em outras palavras, assistimos a uma crise de utopias, modelos; tais modelos e utopias estiveram presentes em toda a história. As utopias fazem parte das aspirações do humano, dos sonhos, dos desejos, da criatividade; fazem parte da ousadia do humano de pensar o novo; algo diferente, capaz de trazer soluções para os problemas que se apresentam na história. Karl Marx, com certeza teve muitos sonhos, muitas aspirações, pensamentos não concretizados, ou concretizados de forma deturpada. Mas seu grande mérito, penso, está em chamar a atenção para os problemas sociais de seu tempo – a Revolução Industrial e as conseqüências decorrentes... De maneira alguma podemos ignorar um sistema amplo, científico, "esta casa com tantos cômodos" como o marxismo. Porém, um sistema que se propõe ser científico, necessariamente precisa auto-renovar-se. A história caminha, novos pensamentos, novas políticas, novas pessoas, novos problemas surgem... Os grandes ideais não podem cristalizarem-se na história, tornarem-se incapazes de compreender o novo. De certa forma foi isto o que aconteceu com o marxismo depois de Marx. Seu pensamento, "levado ao pé-da-letra", ou deturpado tornou-se obsoleto, rígido, "mumificado", cristalizado na história, de certa forma perdido no tempo... É com este "pano-de-fundo" que apresentamos o grande pensador italiano Antonio Gramsci. Antônio Gramsci (1891-1937), membro do partido socialista italiano, tornou-se, em 1921, fundador do partido comunista, na Itália. Foi eleito deputado em 1924. Em 1926, Mussolini o coloca no cárcere. Fora condenado a 20 anos de prisão. Devido à precariedade de sua saúde fora levado do cárcere à enfermaria onde falecera alguns dias depois. No cárcere escreve suas obras, das quais a mais importante é Cadernos do Cárcere. Dividimos este estudo em três partes, sucintas frente a amplitude do tema. Na primeira parte, apresentamos alguns conceitos do marxismo tradicional como, conceito de ideologia, materialismo histórico, etc. Na segunda e terceira parte tratamos especificamente sobre o pensamento de Gramsci. Nestas duas partes abordamos alguns conceitos fundamentais do pensador italiano como, sua concepção de ideologia, dialética, hegemonia, filosofia da práxis e um pouco do seu pensamento pedagógico. Difusa nos conceitos está a grande e revolucionária proposta de Gramsci. Percebemos que em sua proposta, analisa conceitos do próprio marxismo tradicional – ideologia, dialética... – de uma forma muito mais ampla, mais abrangente. Desta forma, Gramsci devolve a dinamicidade, a vida, dá uma nova face ao sistema. É revolucionário, em Gramsci, por exemplo, o seu pensamento pedagógico. Parece ser a escola uma instituição com pouco valor no marxismo tradicional. A mudança cultural também é uma mudança social. Neste sentido, a escola tem uma enorme influência na formação das consciências. Por isso uma boa reforma social tem início em uma boa reforma do sistema escolar. Oxalá todos pudessem Ter acesso a um mesmo nível cultural! É esta uma grande utopia que hoje, mais do que nunca, nos provoca.

PARTE I: CONCEITOS FUNDAMENTAIS DO MARXISMO
O marxismo, poderíamos compará-lo a um grande tronco de uma grande árvore que tem muitos ramos. Cada corrente de pensamento que se diz de inspiração marxista, significa um ramo desta grande árvore. Assim temos uma infinidade de diferentes leituras deste pensamento. Esta primeira parte pretende ser uma introdução ao pensamento. Isto é a base que nos permitirá uma futura análise. Trabalhamos, na presente parte, uma síntese, objetiva, de alguns principais conceitos do marxismo tradicional, para, em seguida apresentarmos a alternativa apresentada por Antônio Gramsci para o marxismo.

1 – Conceito de Ideologia
Marx trata a respeito de ideologia em "Ideologia Alemã". Nesta obra Marx dirige-se a um grupo específico: os filósofos alemães que vieram depois de Hegel; estes são chamados de "ideólogos alemães" (Feuerbach, R. Strauss. Max Stirner, Bruno Bauer...). Marx dirigi-lhes duas críticas principais. "A primeira é a de que esses filósofos tiveram a pretensão de demolir o sistema hegeliano imaginando que bastaria criticar apenas um aspecto da filosofia de Hegel, em lugar de abarcá-la como um todo. Com isto, as chamadas críticas hegelianas apenas substituíram a dialética hegeliana por uma fraseologia sem sentido e sem consistência (com exceção de Feuerbach). A segunda é a de que cada um desses ideólogos tomam um aspecto da realidade humana, convertem este aspecto numa idéia universal e passam a deduzir todo o real desse aspecto idealizado. Com isto, os ideólogos alemães, além de fazerem o que todo o ideólogo faz (isto é, deduzir o real das idéias desse real), ainda imaginaram estar criticando Hegel e a realidade alemã simplesmente por terem escolhido novas idéias que, como demonstra Marx, não criticam coisa alguma, ignoravam a filosofia hegeliana e, sobretudo, ignoravam a realidade alemã".1O pensamento de Marx tem como ponto de partida o pensamento de Hegel. Porém, no seu desenvolvimento encontramos muitos pontos divergentes, ou também usados com sentido diferente. Exemplo clássico disto são as duas concepções divergentes sobre o "motor da história": Hegel acredita ser as idéias as construtoras e movedoras do mundo; as idéias estão antes dos fatos, dos acontecimentos. Sendo assim, a consciência do homem é anterior à realidade que busca conhecer e transformar. A história poderia ser construída pela ação dos grandes homens, pensadores... Marx inverte este processo, acreditando que as idéias surgem a partir das condições reais vividas por indivíduos reais dentro da história. É o confronto do indivíduo com a vida real, da organização por meio da divisão do trabalho que brotam as idéias. O termo ideologia tem vários sentidos: conjunto de idéias, opinião a respeito de algum objeto em discussão, pensamento de um autor, uma doutrina, "organização sistemática dos conhecimentos destinados a orientar a prática, a ação efetiva".2 De qualquer forma "ideologia", no marxismo tradicional, recebe normalmente um sentido pejorativo. Este sentido aprofundaremos ao longo deste primeiro ponto. Marx não separa a produção das idéias e as condições sociais e históricas nas quais são produzidas. As idéias não estão separadas da vida prática, da história real, concreta feita pela ação dos homens. A "Ideologia" pode ser compreendida como um conjunto de idéias. Este sentido pode ser observado, por exemplo, em uma determinada classe, em um determinado grupo social. Podemos dizer que têm as suas idéias, suas convicções, suas gírias, seus objetivos."Ideologia" pode ser entendida como uma organização sistemática dos conhecimento destinados a orientar uma prática, uma ação efetiva. Este é recurso usado para "vender uma idéia"; isto constitui uma propaganda enganosa. Uma formulação é enganosa quando esconde um segundo objetivo. Os objetivos que se quer alcançar permanecem velados. Neste sentido "ideologia" é uma arma muito poderosa dentro de uma sociedade, capaz de formular, e difundir opiniões nocivas à vida social, que jamais seriam pensadas se não existisse a força da difusão ideológica. Sendo assim, "Ideologia", é uma forma subtil de pensamento que pode trazer conseqüências graves. Por exemplo, um trabalhador, passa a não mais se dar conta da situação em que se encontra, da exploração que está sofrendo, do quanto vale o seu trabalho. A ideologia leva o homem a pensar, sentir, agir de uma maneira conveniente com interesses que permanecem velados.

2 – Alienação do Trabalho
Para termos uma idéia do que seja alienação podemos lembrar do filme "Aliens", que quer dizer o estranho, o outro, o desconhecido. O homem, através da alienação torna-se estranho a ele mesmo; não se reconhece a si mesmo; o trabalho o tornou estranho; aquilo que produz lhe é estranho; a atividade tornou-se massificante, penosa, desgostosa por que ela tornou-se exclusivamente um meio de subsistência. A alienação, segundo Marx, "é situação resultante dos fatores materiais dominantes da sociedade, e por ele caracterizada sobretudo no setor capitalista, em que o trabalho do homem se processa de modo a produzir coisas que imediatamente são separadas dos interesses e do alcance de quem as produziu, para se transformarem indistintamente em mercadorias".3 A idéia de alienação Marx herdou de Feuerback. Este fala de alienação religiosa como um projeção da humanidade fora de si mesma; tudo o que a humanidade seria: forte, onipotente, onipresente, está projetado na religião, em Deus. Por isso Feuerback diz: "O ponta culminante da História será o momento em que o homem tomar consciência que o único Deus é o próprio homem".4 Marx herda esta idéia mas a critica e lhe dá uma interpretação própria: antes da alienação religiosa existe a alienação do trabalho; esta é a raiz de todas as outras. Dentre os tipos de alienação: Religiosa, filosófica, Política, Social e Econômica, é esta última que Marx considera a primeira e a mais importante. Economicamente, o capitalismo alienou, isto é separou o trabalhador dos seus meios de produção – as ferramentas, as matérias-primas, a terra e as máquinas – que se tornaram propriedade privada do capitalista. A industrialização, a propriedade privada e o assalariamento separaram o trabalhador dos meios de produção e do fruto de seu trabalho. Essa é a base da alienação econômica do homem sob o capital. A alienação do trabalho consiste no fato de que o trabalho é externo ao operário, isto é, não pertence ao seu ser. Nisto, o trabalho ganha um caráter de escravidão e massificação; o operário não se afirma no seu trabalho, não se sente satisfeito, mas se nega e sente-se fora de si; se está trabalhando não se sente em sua própria casa. O seu trabalho não é voluntário, é trabalho forçado. No trabalho, o homem deveria trabalhar e se trabalhar a si mesmo, aperfeiçoando suas capacidade e habilidades, e assim, trabalhar sua própria natureza. Esta deveria ser a verdadeira função do trabalho. Este caráter do trabalho foi se perdendo por que ele se tornou o único meio de subsistência para o trabalhador. E o trabalho se tornando meio de subsistência, o homem está se reduzindo a um ser que somente luta para sobreviver, troca sua vida, sua força de trabalho – única propriedade sua – pela sobrevivência. "A alienação do trabalho faz com que o operário se torne tanto mais pobre quanto maior é a riqueza que produz, quanto mais sua produção cresce em potência e extensão. O operário torna-se mercadoria tanto mais vil quanto maior é a quantidade de mercadoria que produz".5 Disto podemos concluir que o operário é um instrumento nas mãos do capital; ele produz uma força que depois se lhe opõe, isto é, o que ele mesmo produz, o lucro que fica nas mãos dos proprietários dos meios de produção, lhe é estranho, escraviza-o. São inúmeros os casos em que os trabalhadores não têm acesso aos bens que produzem. O produto do seu trabalho é estranho; até mesmo, nem sabe o quanto vale o seu trabalho. Isto cada vez mais acentua a pauperização econômica. Junto com a pauperização econômica do trabalhador, devido à exploração que sofre, vem a pauperização humana do indivíduo. O trabalho é a vida de uma pessoa; o produto é o resultado do empenho de uma vida; é a vida do trabalhador que se converte em produto. Produto este que posteriormente se converte em lucro para o proprietário dos meios de produção. Se o indivíduo tiver que dar a sua vida em troca de sua subsistência, aqui ocorre cada vez mais a pauperização humana do indivíduo. O indivíduo não tem mais tempo para pensar, para ter seu momento de lazer, recreação, descanso, leitura, mas, está preocupado em trabalhar para conseguir sobreviver. O humano se torna um máquina, e, na proporção que aumenta o seu trabalho, diminui a sua vida. Do Humano, neste sentido, é tirado o direito de viver e realizar a sua vida. Teoricamente todos têm liberdade, direito de viver com dignidade e realização. Do operário, na maioria das vezes, isto lhe é negado pela estrutura econômica.

3 – Materialismo Histórico
"É uma doutrina enunciada por Marx e Engels segundo a qual a evolução da sociedade e, em particular, as criações do espírito humano no campo da moral, do direito e da política são condicionadas ou determinadas, em última instância, pelas relações econômicas de produção, de distribuição e circulação dos bens de subsistência".6 Marx não fez uma elaboração sistemática sobre esta doutrina contendo os seus principais pontos; estes se encontram dispersos em suas obras principalmente em a Ideologia Alemã, Introdução à Crítica da Economia Política Manifesto do Partido comunista. O Materialismo Histórico é uma oposição ao idealismo de Hegel; dentro desta oposição a consciência é explicada pelas contrariedades da vida material. Marx reconhece ser Hegel um grande filósofo devido ao caráter dialético de sua filosofia: o conflito das idéias é que movem o mundo. Isto faz de Hegel um filósofo idealista. O idealismo de Hegel é aplicado à matéria e temos o chamado Materialismo Histórico: "movimento da história que recusa qualquer explicação idealista".7 O materialismo histórico é a rejeição de toda e qualquer filosofia idealista da história e de toda a história narrada em termos idealistas. O fundamento essencial da história são as relações entre o homem e a natureza, relação entre o homem e outro homem. A história para Marx é a história de contradições; aquela que reflete o real dialético. A história é o real por isso que é dialética; a linearidade não encontra espaço dentro da concepção marxista da história. A não linearidade dentro da história se mostra na luta de classes; esta sempre esteve presente em todas as sociedades passadas, e, é o reflexo real das contradições do modo de produção material. A história está em um constante desenvolvimento: progride através de contradições. Não podemos deixar de lado o caráter científico do Materialismo Histórico; este é, acima de tudo uma explicação científica da história. Assim define Pedro Dalle Nogare, o Materialismo Histórico: "Marx tentou formular uma teoria científica da sociedade e da história através de fatores econômicos".8 O Materialismo Histórico consiste na tese de que "não é a consciência do homem que determina o seu ser, mas, ao contrário, o seu ser social que determina a sua consciência".9 O homem, a sua consciência é fruto do meio em que vive. A produção das idéias, de sua consciência está diretamente ligada com sua atividade material e esta é a "linguagem da vida real"10, isto é, o que existe é a base econômica, as relações materiais e de produção; tudo o que existe além são decorrentes destas relações, inclusive a política, o direito, moral, a religião, Estado, Escola... (Superestrutura ideológica). As idéias são produzidas pela ação real, de homens reais condicionados pela estrutura econômica. Os homens produzem sua existência, entram em relações sociais independentes de sua vontade; o conjunto dessas relações forma a estrutura econômica da sociedade; sobre esta se ergue uma estrutura jurídica e política à qual correspondem formas de consciência social. Conforme muda a base econômica, muda também a superestrutura ideológica. O homem sempre aspira pela libertação; o desejo do homem é ser livre. Esta libertação já vem ocorrendo dentro da evolução histórica, como descreve Marx, dividindo a história em cinco épocas (chamada pré-história). Haveria a última etapa, e então começaria a verdadeira história: a época Comunista. a) Época PrimitivaEsta etapa é o início da humanidade, onde tudo estava em comum e não havia divisão de classes. 
b) Época Escravista.
 É a época da propriedade privada dos meios de produção; os homens também são considerados como meios de produção. Pela primeira vez aparecem já duas classes: senhor e escravo. c) Época Feudal. A propriedade dos meios de produção continua sendo privado; não é sistema escravista mas despótica, em que o déspota é explorado pelo dono. Aqui já começam a surgir várias classes sociais: feudatários, clero, soldados, artesãos, comerciantes. Aqui já se inicia também a luta entre as classes. d) Época Capitalista. Esta é a época mais estudada pelo marxismo. Caracteriza-se pelo comércio do trabalho humano. O trabalho é encarado como mercadoria e a remuneração pelo trabalho é mais baixa que seu valor real. Neste sistema o que cria a divisão de classes em capitalistas e proletários é a propriedade privada dos meios de produção. Com o surgimento do capitalismo,na Inglaterra com a Revolução Industrial, surgiu junto a máquina: um concorrente dos artesãos. Sendo o custo de aquisição desta máquina muito alto, isto somente era feito pelos ricos. Este fato trouxe no mercado mercadorias mais baratas e melhores que as produzidas pelos artesãos; estes foram obrigados a começar vender sua força de trabalho para os proprietários das máquinas em forma de trabalhadores assalariados. Aqui nasceram as fábricas e junto com elas toda sorte de injustiças. O Capitalismo se encarrega de construir sua Própria ruína: se de um lado há a concentração de riquezas cada vez maior na mão de menos pessoas, de outro lado alguém está perdendo; é a chamada pauperização do proletariado. e) Ditadura do Proletariado. É a transição do Capitalismo para o Comunismo. É uma época muito revolucionária, na qual será instinta toda superestrutura e a propriedade privada dos meios de produção. Esta época deve acelerar o advento de uma nova era com intensa "conscientização dos indivíduos e industrialização do pais".11
f)
 Época Comunista. Esta será a última e definitiva. Nesta época haverá o fim da propriedade privada dos meios de produção, fim das classes sociais, fim do Estado – instrumento de opressão em favor da classe dominante – fim da divisão de trabalho, fim da divisão entre cidade/campo, 'fim da religião'12. Depois da extinção de tudo isto surgirá uma nova era, uma nova Humanidade, uma geral prosperidade e riqueza material, não mais vigorarão as leis do Capitalismo (quem pode mais chora menos), mas as leis sociais conforme a capacidade de produção de cada indivíduo e conforme também suas necessidades. Isto tudo será possível porque surgirá um novo Homem com consciência social e responsabilidade. "Como é fácil observar, o progressivo avanço da história até a libertação final do homem é devida às contradições históricas que determinam o movimento. Observa Marx que é uma lei geral, verificáveis pela experiência, que as forças produtivas costumam desenvolver-se mais rapidamente que as leis de produção. Ao passo que esta diferença vai crescendo, vai aumentando a tensão entre as classes que têm interesses ou em conservar (as classes possuidoras) ou em mudar o regime constituído (as classes sacrificadas). Esta tensão pode crescer a tal ponto que já a situação criada se torna insustentável e explode a revolução que violentamente recompõe o equilíbrio perdido entre os dois fatores, para de novo começar o processo".13

4 – Materialismo Dialético
É quase impossível uma separação entre Materialismo Histórico e Materialismo dialético. Parecem ser duas partes de uma mesma coisa: as contradições que aparecem no materialismo histórico (o real contraditório) são as mesmas leis da dialética aplicadas à natureza. A História se desenvolve através de conflitos. Tais acontecimentos conflituosos fogem da linearidade. Isto é a dialética.

4.1 – Hegel: Lógica Formal X Lógica Dialética
As origens da dialética são anteriores a Hegel, mas nos limitaremos a fazer uma abordagem rápida sobre as origens da dialética, mais em Hegel, pois, é daqui que Marx herda o conceito da dialética para aplicar à sua teoria. Hegel percebe que na lógica formal está implícito o princípio da Identidade, isto é, da não contradição. Isto tem origem já em Parmênides: "o ser é, e, o não ser não é". Uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo, sob o mesmo aspecto. Uma coisa se identifica somente com ela mesma; tudo é linear; o que não se encaixa dentro desta linearidade é visto como erro. O pensamento até Hegel está orientado para a linearidade. O real, porém, tem contradições, e, se o nosso pensamento exclui a contradição, então, não "podemos conhecer as coisas em si, mas o nosso próprio conhecimento das coisas", como dizia Kant, por que o nosso instrumento mental não possibilita este conhecimento. O conhecimento está limitado ao formal, à identidade. A realidade não se encaixa dentro disto. Hegel propõe a lógica dialética admitindo a realidade contraditória. A dialética seria a nova forma de pensar, resgatando o que foi excluído anteriormente: a contradição. Em Hegel a contradição é mais abrangente que a identidade. Sendo assim ela engloba, abrange também a identidade como um momento, uma parte da dialética. Existe a identidade dentro da dialética mas ela é provisória: o ser é movimento. Para Hegel a realidade é o espírito; a realidade física é manifestação do espírito. O mundo físico é uma verdadeira negação do espírito; é o espírito alienado de si mesmo. O Espírito Absoluto subsiste por si mesmo; o espírito alienado de si mesmo, o mundo, é pura emanação do Espírito Absoluto.
Entre estas duas realidades (Espírito e espírito alienado) existe um conflito que só será superado por intermédio do homem, através da consciência. À medida que a consciência do homem se desenvolve dentro da história vai ocorrendo a superação da alienação do espírito. Disto surge este esquema:
ESPÍRITO
(Afirmação)
MUNDO
(Negação)
CONSCIÊNCIA
(Síntese)
O mundo é o espírito de forma oposta; é a materialização do espírito, mas sem consciência. O espírito também não reconhece o mundo como sendo parte dele, por isto o mundo é o espírito alienado de si mesmo.
Dentro do mundo está o homem, que por sua vez também é mundo. O homem têm a capacidade de desenvolver a consciência de si mesmo e das coisas: é como se dentro do mundo houvesse uma sementinha do Espírito Absoluto. Esta sementinha é a consciência do homem. O mundo vai se espiritualizando à medida que a consciência cresce. Isto ocorre através da cultura que se desenvolve dentro da história: é a síntese. A síntese é a união daquilo que estava separado, alienado, oposto, contraditório.
A partir deste momento a contradição não é mais vista como um erro; a contradição é vista como a essência do desenvolvimento. O processo de desenvolvimento é o movimento triádico descrito acima: afirmação, negação e a negação da negação (nova síntese). Este movimento continua se repetindo infinitamente até chegar o momento em que não haja mais contradições. Este momento é representado por Hegel pelo perfeito desenvolvimento cultural, isto é, cultura desenvolveria tanto que não haveria mais nada para ser explicado. Seria o fim da dialética.
Comparando a lógica formal com a lógica dialética temos dois princípios distintos e que tem sua aplicação prática distinta.
Por um lado, a lógica formal, tem como base o princípio da não contradição; sempre trabalha com aspectos parciais: analisa as partes. Isto podemos perceber, por exemplo, na medicina quando a preocupação está somente em tratar os efeitos, os sintomas e não se procura a causa de tais efeitos; do ponto de vista da lógica formal o corpo não é visto como um todo mas como partes. Como neste, em muitos outros casos a sociedade se deixa levar unicamente pelo formal, legal; às vezes sabe orientar-se só dentro do pré-escrito.
Por outro lado a lógica dialética admite a contradição; já pressupõe uma totalidade (Espírito Absoluto). Assim os fenômenos que ocorrem não são analisados isoladamente (formal). Na medicina, como falamos acima, o tratamento deveria ir em busca da causa de determinada doença. Quando falamos, por exemplo, de desemprego, não podemos entendê-lo como um fato isolado; precisamos analizá-lo como participante de um conjunto que não tem uma única causa e também não tem um único efeito. Muitas coisas são causa e efeito uma das outras. Este segundo modo de ver a realidade parece mais adequado para a modernidade globalizada e holística.
5 – Luta de Classes

O conceito como tal não é de criação de Marx. Desde muito tempo antes de Marx já havia este conceito. Aristóteles na POLÍTICA divide a sociedade em classe pobre, média e rica. "Nesta mesma obra, Aristóteles estabelece relações entre formas de governo e predomínio de certas classes sociais".14
No século XIX o conceito de classe se identifica com o próprio fundamento da sociedade. "O que Marx vai fazer é exatamente dar ao conceito de classe não só uma dimensão científica, mas também atribuir-lhe o papel de base de explicação da sociedade e de sua história".15
A luta de classes, na da teoria marxista, é como um motor poderoso capaz de "dinamizar a história"16. O conflito, a dialética do real que gera o movimento ocorre entre as classes; e, é isto que dinamiza a história. Em toda a história podemos observar este fato. "Segundo Marx, as raízes da evolução social não se situam numa mudança de idéias ou valores, mas nos fatos econômicos e tecnológicos. A dinâmica da mudança é a de uma interação dialética de opostos decorrente de contradições que são intrínsecas a todas as coisas. Marx tirou essa idéia da filosofia de Hegel e adaptou-a à sua análise da mudança social, afirmando que todas as transformações que ocorrem na sociedade provém de suas contradições internas. Considerou que os princípios contraditórios da organização social estão consubstanciados nas classes da sociedade e que a luta de classes é uma consequência de sua interação dialética. Para Marx, a luta de classes é a força propulsora da história. Ele sustentava que todo progresso histórico importante nasce do conflito, da luta e da revolução violenta. O sofrimento e o sacrifício humanos eram um preço que tinha de ser pago para se chegar à mudança social".17
Diz Marx/Engels no Manifesto do Partido Comunista: "A história da sociedade se confunde até hoje com a história das lutas de classes. O homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor e servo, mestre de corporação e companheiro, em outros termos, opressores e oprimidos em permanente conflito entre si, não cessam de se guerrearem em luta aberta ou camuflada, luta que, historicamente, sempre terminou numa restruturação revolucionária da sociedade inteira ou no aniquilamento das classes em choque".18
As relações entre os homens resultam das relações de oposição, antagonismo, exploração e complementariedade entre as classes sociais.
Há uma relação de exploração entre a classe dos proprietários, a burguesia, e a dos trabalhadores – o proletariado – porque a posse dos meios de produção, sob a forma legal de propriedade privada, faz com que os trabalhadores, para assegurar a sobrevivência, tenham que vender sua força de trabalho ao empresário capitalista, o qual se apropria do produto do trabalho de seus operários.
Estas relações são também de oposição e antagonismo, porque os interesses de classe são inconciliáveis. O capitalista deseja preservar seus direitos, isto é, a propriedade dos meios de produção e a máxima exploração do trabalho do operário. Isto acontece seja através da redução dos salários ou ampliando a jornada de trabalho. O trabalhador, por sua vez, procura diminuir a exploração ao lutar por menor jornada de trabalho, melhores salários e participação nos lucros.
Por outro lado, as relações entre as classes são complementares, pois uma só existe em relação à outra. Só existem proprietários porque há uma massa de despossuídos cuja única propriedade é sua força de trabalho, que precisam vender para assegurar a sobrevivência. As classes sociais são, pois, complementares e interdependentes.
A Luta de Classes, a divisão, sempre existiu durante toda a história. Na antiga Roma encontramos os patrícios, cavaleiros, plebeus, escravos. Na Idade média encontramos as figuras do senhor, dos vassalos, servos... A nossa sociedade moderna (sua estrutura) está fundamentada em toda a história. O que vemos hoje na sociedade é que ela está se dividindo cada vez mais em duas grandes classes, dois grandes grupos (Burguesia moderna e Proletariado19), opostos que lutam entre si: classe rica e classe pobre. Estes dois grupos, um domina, outro é dominado; uma classe é opressora e outra oprimida, seja pelas armas da ideologia ou pela repressão. O que importa é manter-se no domínio.
A História do homem é, segundo Marx, a história da "luta de classes", uma luta constante entre interesses opostos, embora nem sempre se manifeste socialmente sob a forma de guerra declarada. As divergências, as aposições e antagonismos de classes estão implícitos em todas as relações sociais, nos mais diversos níveis da sociedade, em todos os tempos, desde o surgimento da propriedade privada.
A burguesia é uma classe proveniente da decadência feudal. Esta gerou uma outra classe; desta mesma forma que o feudalismo gerou a burguesia, assim também a burguesia moderna gerou uma classe: os proletários. O próprio feudalismo gerou uma classe que foi a sua ruína: "Assim como para o Senhor Feudal foi inútil defender os direitos feudais diante daquela sua criatura que era a burguesia, agora também é inútil para a burguesia trabalhar em prol da conservação de seus direitos sobre o proletariado. A realidade é que a burguesia não apenas fabricou as armas que a levarão à morte, mas também gerou os homens que empunharão aquelas armas: os operários modernos, os proletários".20

II PARTE

ANTÔNIO GRAMSCI
Nesta segunda parte deste estudo enfocamos o pensamento de Antônio Gramsci. Queremos dar maior acento a alguns principais conceitos, pois entendemos que neles aparece uma nova leitura, uma crítica sutil do marxismo, segundo o pensados que nos propomos a estudar.

2 – Conceito de Ideologia em Antônio Gramsci
O tema da "ideologia" é um tema muito conturbado dentro da teoria marxista. O marxismo tradicional usa este termo em sentido pejorativo. Gramsci resgata, além do pejorativo, um sentido positivo para este termo. Portanto, Gramsci trata deste assunto sob dois aspectos. Este é um primeiro ponto que distingue Gramsci como revisionista do marxismo.
Diz Gramsci: "a ideologia foi um aspecto do "sensismo"21"22, tendo como significado original "origem das idéias". Como no Século XVIII, no Sensismo, a análise era o único método aplicado à ciência, ideologia significava a análise das idéias; análise sobre sua origem, quais os elementos originais de uma idéia. Segundo o Sensismo, as idéias derivam das sensações.
Com o passar do tempo, o conceito de ideologia como análise sobre a origem das idéias passou a significar, a ideologia, um sistema de idéias. "Com a filosofia da práxis, ideologia ganhou um novo conceito capaz de superar o antigo. Tal conceito "exclui que para os fundadores (da Filosofia da Práxis) a origem das idéias tivesse que procurar-se nas sensações"23. Segundo a Filosofia da Práxis, ideologia, tem que ser analisada historicamente como uma superestrutura24.
Segundo Gramsci, o erro no ato de considerar o valor das ideologias, é que se dá o nome de "Ideologia" tanto à uma superestrutura que é necessária a uma determinada estrutura, como à iniciativas individuais. Com isto, ideologia, ganhou um sentido pejorativo e este sentido estendeu-se muito mais que o não pejorativo. O processo de tal erro pode ser dito em três pontos:
Ideologia é identificada como algo diferente ou separado da estrutura e diz-se que não são as ideologias que modificam as estruturas, mas sim, o contrário.
"Afirma-se que uma determinada solução política é ideológica e que, embora se julgue poder modificar a estrutura, é insuficiente para modificar; afirma-se que é inútil, estúpida, etc."
25
Passa-se a afirmar que toda a ideologia é pura aparência, inútil e estúpida.
Entre as ideologias é preciso distinguir dois grupos: 1) as que são historicamente orgânicas e que surgiram conforme a necessidade que a história apresenta; 2)as que surgiram por iniciativas individuais e racionalistas. "Na medida em que são historicamente necessárias, têm uma validade "psicológica", "organizam" as massas humanas, formam o terreno em que os homens se movem, adquirem consciência de sua posição, lutam, etc.".
26Ao contrário, quando são proveniente de iniciativas individuais criam movimentos individuais, polêmicas sem muita duração, e, que não trazem solução para os problemas apresentados pela história.
O marxismo tradicional, de modo geral, como um modo de pensar determinado pela estrutura econômica. Gramsci, considerado um revisionista do marxismo, concebe ideologia como uma concepção de mundo; combate energicamente qualquer "determinismo"27: "A pretensão de apresentar e expor cada flutuação da política e da ideologia como uma expressão imediata da estrutura, deve ser combatida teoricamente como um infantilismo primitivo"28.
Gramsci ao falar de "ideologia" não está preocupado somente com sua definição e sua origem; está também preocupado com a difusão de uma determinada ideologia.
O processo de difusão da ideologia há basicamente dois momentos progressivos: num primeiro momento é natural que uma determinada concepção de mundo seja mais difundida entre a classe dirigente; num segundo momento a ideologia difunde-se na cultura popular.
"Ideologia" pode ser caracterizada como uma concepção de mundo. A concepção mais bem elaborada recebe o nome de filosofia; no nível mais baixo recebe o nome de folclore, e, em último lugar se encontra o senso comum.
A filosofia sendo o estágio mais elaborado da concepção do mundo deve possuir um alto grau de coerência: "o filósofo não somente pensa com maior coerência, rigor lógico e espírito sistemático que os outros homens, mas conhece toda a história do pensamento, ou seja, é capaz de explicar o desenvolvimento que o pensamento sofreu até ele; assume, no plano do pensamento, a mesma função assumida pelos especialistas nos diversos domínios científicos".29
O papel essencial da filosofia é difundir a concepção de mundo dentro do senso comum. Uma filosofia que nasceu dentro da história, isto é, orgânica deve estender-se até ao senso comum. Qualquer pensamento, superior ao senso comum (cientificamente coerente), deve permanecer em contato com as camadas populares, "os simples" e assim ver a origem dos problemas a serem resolvidos visando a melhor direção ideológica. "Realmente apesar deste contato, Gramsci constata que a verdadeira relação entre filosofia 'superior' e senso comum é garantida pela política, que assim assegura a unidade ideológica do bloco histórico".30

2.2- A Filosofia da Práxis
A origem da "Filosofia da Práxis" confunde-se com a origem do próprio marxismo. É, porém, em Antônio Labriola que Gramsci tem seu ponto de partida. Antônio Labriola fala em Filosofia da Práxis como um "conhecer agindo".
Labriola (1843-1904), grande estudioso do marxismo, afirma que este não é positivismo nem naturalismo, embora aceita alguns aspectos de um e de outro.
Do positivismo, por exemplo, "Labriola aceita o método científico, mas rejeita a visão materialista do universo"31. Sobre o Naturalismo, afirma que a cultura, por exemplo, não é natureza; a cultura depende da ação humana; assim, o viver humano não é determinado pela natureza. O homem é capaz de projetar visando objetivos: " O materialismo histórico nunca poderá reduzir-se a materialismo mecanicista, já que o homem não é somente natureza"32.
Labriola, por um lado, admite a tese central do Materialismo Histórico de que não é a consciência que determina o modo de viver do homem, mas o modo de viver que determina a consciência.
Por outro lado, ressalta Labriola que a história não pode ser reduzida a este fatalismo conforme a tese central do Materialismo Histórico: "... essas formas de consciência, constituem também a história, que não é somente anatomia econômica "33.
A complicada engrenagem da sociedade não pode ser explicada, como pretendia o marxismo ortodoxo, simplesmente como sendo produto do momento econômico; da primazia da estrutura econômica sobre a superestrutura das idéias. Também não se pode dizer que a história é uma sucessão de fatos voluntários. Por isso Labriola propunha um materialismo histórico como Filosofia da Práxis, que vê no "conhecer agindo" a ação humana na história. A história não pode ser vista como uma secessão de fatos que acontecem por acaso, mas nela homens pensam, agem e assim fazem a história que tem homem reais como o seu sujeito
Gramsci concorda com Labriola em alguns aspectos, mas, desenvolve, sobretudo a sua Filosofia da Práxis em oposição à Filosofia Especulativa de Benedetto Croce34. "A Filosofia da Práxis não pode conceber a estrutura de maneira especulativa e doutrinária, como se fosse um "deus oculto". A estrutura deve ser concebida historicamente como o conjunto das relações sociais em que homens reais se movem e agem"35.
Na Filosofia da Práxis o Materialismo Histórico não é tomado como mero economicismo; é tomado como uma dialética real, que envolve toda a história. Os homens são os artífices conscientes, sujeitos da história e não objetos dela: "produtos da fatalidade". O marxismo não pode ser "dogma", "ortodoxo", "fatalista"; o marxismo precisa retomar o seu caráter dialético.
A Filosofia da Práxis, ao invés de um determinismo econômico, propõe uma unidade entre a teoria e a prática.
Esta questão é muito importante e atual, na teoria de Gramsci, ainda não bem resolvida. Uma não pode ser supervalorizada em detrimento da outra. A unidade entre teoria e prática é um trabalho a ser realizado pelos intelectuais que organizam, dirigem, instruem os povos fazendo com que a teoria não seja papel específico de um determinado grupo, que não seja separada dos que a praticam. A teoria precisa ser difundida até à compreensão do povo simples. Isto não constitui um rebaixamento da teoria mas uma elevação cultural e intelectual do povo, para que este pense, forme suas convicções, critique a teoria e também a prática. Deste modo deixará de ser objeto para tornar-se sujeito ativo, construtor da história.
Em sua história, a Filosofia da Práxis, não esteve sempre totalmente livre da concepção fatalista, mas diz Gramsci: "a propósito da função histórica cumprida pela concepção fatalista da Filosofia da Práxis podia fazer-se um elogio fúnebre de si mesma, reivindicando a sua utilidade para um determinado período histórico, mas precisamente por isso sustentando a necessidade de a enterrar com todas as devidas honras".36 Isto parece dizer que não se pode ter muitos pré-conceitos quanto à história, evitando assim conclusões apressadas e julgamento injustos dos grandes pensadores que revolucionaram a humanidade. Isto pode acontecer não só no caso de Marx, mas com todos e com toda a história. Talvez na época de Marx, no seu contexto histórico-social, a concepção fatalista da Filosofia da Práxis tenha tido a sua utilidade; não podemos enquadrá-la como inválida totalmente. O que Gramsci enfatiza é que o marxismo não pode ficar parado no tempo; ele precisa evoluir juntamente com a história, trazendo consigo os aspectos bons e purificando ou modernizando o que já não serve para nossos dias. Como já dissemos, o marxismo não pode ser "dogma"; o marxismo se trata de uma ciência.

2.3- Teoria da Hegemonia
"A Filosofia da Práxis constitui uma concepção do marxismo contrária às interpretações de cunho positivista e mecanicista; acontecimentos estruturais se entrelaçam e interagem com elementos humanos como a vontade e o pensamento" 37
Para entendermos Gramsci precisamos fazer referência a Lênin. Lênin se preocupa em como sintetizar dialeticamente teoria e práxis visando chegar ao poder por uma força que está emergindo e quer a criação de uma nova civilização. "O princípio teórico-prático é a maior contribuição teórica de Lênin à Filosofia da Práxis".38 A nova força emergente, da qual Lênin fala, é o proletariado. Hegemonia na compreensão de Lênin, poderíamos dizer, é a dominação por parte do proletariado: ditadura do proletariado para se chegar depois ao comunismo.
É possível uma grande proximidade entre Gramsci e Lênin, porém, diferem num ponto que é essencial: a direção cultural e ideológica. Para Gramsci, esta direção está em primeiro lugar. Lênin – nos seus escritos sobre a hegemonia - propõe a derrubada pela – violência do aparelho de Estado, sendo mais importante a sociedade política com suas estratégicas à sociedade civil.
Gramsci, ao contrário, situa dentro da sociedade civil a luta pela hegemonia. O grupo que controla a sociedade civil é um grupo hegemônico; a conquista da sociedade política é o coroamento desta hegemonia.
A sociedade se estrutura em classes. Para que uma classe possa se tornar dirigente de uma sociedade inteira deve se distinguir e conquistar a direção baseada na própria ideologia (concepção de mundo), na sua organização e superioridade moral e intelectual.
Uma classe só se torna dirigente quando é reconhecida pelas outras classes a sua superioridade moral, intelectual e organizacional. Com o consentimento das outras classes forma-se o chamado "Bloco Histórico, isto é, um sistema articulado e orgânico de alianças sociais ligadas por ideologias comuns e por cultura comum".39
Há, porém, uma distinção entre dominação (Lênin) e direção (Gramsci): a Hegemonia parte da capacidade de apontar soluções para os problemas sociais e trabalhar para solucioná-los. Decaindo a capacidade de dirigir (hegemonia), por causa do domínio, pela força, pode ainda manter-se no poder a antiga classe dirigente, mas não por muito tempo. Tal classe perde o consentimento das outras classes, e neste espaço de tempo em que há um "vazio de direção" surge outra camada hegemônica para ser dirigente.
O conceito de direção é, sem dúvida, um aspecto muito importante da filosofia de Gramsci. Com certeza este pensamento reflete sua história pessoal, sua vida reclusa num cárcere, o contexto histórico da Itália fascista.
Como conclusão, conseqüente do pensamento de Gramsci, diríamos que qualquer sociedade jamais pode ser coagida a alguma coisa, por algum grupo ou por algum tirano. A sociedade civil – em sentido mais amplo: a sociedade mundial, hoje rumo à globalização – precisa de lideranças, direção séria que, democraticamente encontre a melhor solução para os problemas atuais, muitos destes com dimensão global.
Um grande risco na atual política mundial é o que antes aparecia como ditadura, coerção aparecer disfarçada sob outras formas.

2.3.1 – Hegemonia e Bloco Ideológico
Para a classe dirigente é importante que ela tenha predomínio intelectual sobre os demais intelectuais das outras classes, atraindo-os para si e criando assim um sistema de solidariedade entre todos os intelectuais com laços de ordem psicológica. Tal atração proporciona uma aproximação dos intelectuais das demais camadas com os da classe dirigente. Assim se forma o chamado "Bloco Ideológico ou Intelectual".
O objetivo desta atração é extinguir as tentativas de sobrevivência de grupos rivais e da antiga classe.

2.3.2 – Hegemonia e Ditadura
A função hegemônica que um grupo exerce sobre a sociedade é adquirida pelo consenso, graças ao controle da sociedade civil, pela difusão de sua concepção de mundo junto aos grupos sociais, tornando tal concepção um consenso.
A ditadura ou dominação é quando um grupo social não hegemônico domina a sociedade através da coerção; "este grupo não detém, ou não mais, a direção ideológica; tal situação ocorre em dois casos que são casos de crise do bloco histórico: 1º) uma classe que detinha a hegemonia no seio do Bloco Histórico perde-a em favor de um novo sistema hegemônico e só se mantém pela força: este é, ou foi o fenômeno Fascista; 2º) uma classe que aspira à hegemonia apropria-se do aparelho de estado: é a Revolução russa de 1917"40
É ingenuidade pensar que uma classe hegemônica tenha hegemonia total sobre todos os indivíduos de uma sociedade; somente é hegemônica sobre classes auxiliares que lhe servem de base social, e, usando a força para com os que lhe fazem oposições. Jamais uma hegemonia é total; o grupo hegemônico dirige a maioria, os que lhe são favoráveis e domina a minoria, os que lhe são contrários. Se a maioria lhes for contrário não haverá mais hegemonia; talvez haja domínio pela força.
Um grupo que aspira à direção da sociedade, deve ser dirigente antes mesmo da conquista do poder. O essencial para um sistema hegemônico coerente consiste na formação de um poderoso "bloco ideológico".

2.3.3 – Sociedade Política e Sociedade Civil
A distinção entre domínio e direção permite a distinção entre sociedade política e sociedade civil; a primeira refere-se ao aparelho de estado e a segunda, Gramsci usa para definir a direção intelectual e moral de um sistema social.
A noção de sociedade civil, originariamente é de Hegel; Marx interpreta como o conjunto das relações econômicas; esta é decisiva na sociedade civil. Gramsci interpreta como o complexo da superestrutura ideológica.
Em Marx, o conjunto das relações econômicas é a que determina a sociedade civil; Marx e Engels em "A Ideologia Alemã" a definem como o centro, o verdadeiro palco da História; abrange o conjunto da estrutura econômica e social.
Gramsci concebe sociedade civil diferentemente de Marx e Engels. Como dissemos acima, é o "complexo da superestrutura ideológica". A sociedade civil "é dada pela trama das relações que os homens estabelecem em instituições como os sindicatos, os partidos, a Igreja, a escola e assim por diante".41A classe que aspira à hegemonia deve começar seu trabalho exatamente nestas instituições da sociedade civil; aqui ela deve difundir os seus ideais, os seus valores éticos, morais, sua ideologia por meio de um trabalho ininterrupto e organizado, formando assim uma unidade moral e intelectual: um consenso geral. Isto já é a base para um grupo se tornar hegemônico: ser dirigente antes mesmo da conquista do poder, persuadindo da capacidade que tem de resolver os problemas da vida social.
Assim, História não é mais a História do desenvolvimento das forças produtivas, como era concebido pelo marxismo clássico, mas é agora, como diz Gramsci "a luta entre dois princípios hegemônicos".42
Gramsci opõe à sociedade civil, no seio da superestrutura, a sociedade política. Nos "Quaderni" Gramsci assim define: "a sociedade política ou Estado que corresponde à (função) de dominação direta ou de comando que se exprime no estado ou governo jurídico"43.
A sociedade civil e a sociedade política, correspondem a dois momentos da superestrutura que andam juntas e relacionam-se permanentemente: domínio e direção. Não há uma sociedade em que a hegemonia, o consenso seja total; uma sociedade baseada em um consenso gera é uma "pura utopia".

2.4 – O Resgate da Dialética
Diante de nós temos uma história real, feita pela vivência de homens que, segundo a compreensão, a época em que viveram, tentaram dar-lhe o melhor rumo, sempre procurando alternativas para os problemas apresentados pela própria vida com o passar do tempo.
Por outro lado é ingenuidade e um certo idealismo pensar que a história sempre foi feita de boas intenções. A história é um emaranhado de grandes progressos intelectuais morais, morais filosóficos, políticos, tecnológicos, etc; por outro lado é cheia de grandes conflitos, brutalidade, catástrofes, extremos...
Neste sentido é impossível compreender a história através dos métodos simplistas do "vulgar-marxismo"44. A história é uma história de contradições e para a compreensão se faz necessário a utilização de método próprio: o método dialético; método este não compreendido pelo vulgar-marxismo. "Somente a dialética nos permite compreender o que é a realidade, enquanto ela é consciência das contradições sociais em que vivem homens reais e que, em situações concretas, devem ser enfrentadas por homens que têm às suas costas uma tradição específica e não outra qualquer"45.
O marxismo não é "doutrina"; é uma práxis; consciência revolucionária; não é "dogma de fé", nem determinista, nem fatalista; é uma ciência dialética, isto é, evolutiva, precisa ser aprimorada. É característica do método dialéticos levar em conta o "ser"e o "não ser"46, isto é, a contradição.
O tema da dialética continua sendo o tema central para o estudo do marxismo, mas, qual a importância que Gramsci atribui ao conceito de dialética?
Para Gramsci a dialética é um novo modo de pensar, ou, uma nova Filosofia. Ele volta às origens da dialética em Hegel/Marx-Engels, compreendendo-a como uma oposição ao formal, à lógica formal clássica: a realidade não é formal, linear; a realidade é contraditória. A dialética é um novo modo de pensar, mais amplo.
Para exemplificarmos poderíamos citar qualquer acontecimento ou problema que é analisado simplisticamente sem perceber quais relações que um determinado problema tem com os outros problemas: o que é causa e o que é conseqüência. Se analisarmos o problema do desemprego à luz do senso comum, poderíamos até chegar à conclusão de que isto acontece por que as pessoas não querem trabalhar, ou, qualquer outra conclusão que seja absurda. Deixamos, assim de perceber que há uma infinidade de fatos que são causa e ao mesmo tempo conseqüências de um problema como o desemprego.
O modo de pensar dialético não permite uma visão fechada, unilateral. Esta permite uma visão ampla, uma visão de conjunto. Nunca analisa um problema separadamente como sendo individual; procura observar as causas e as conseqüências, enfim, tudo o que pode estar relacionado com um problema.
Analisando, resumidamente o problema do desemprego à luz da dialética, concluiríamos que pode haver ralação com a falta de vontade de trabalhar mas, perceberemos também que há causas muito mais verdadeiras e convincentes como, por exemplo, a falta de trabalho, baixo poder aquisitivo, baixa qualidade de vida da população e assim por diante. De que forma a estruturação econômica de um país estaria relacionado com o desemprego? Qual é a causa do desemprego? Quais são suas conseqüências? Tudo isto pode ter relação direta ou indireta com o problema a ser analisado. Então começamos ver que os problemas, principalmente sociais e econômicos não são problemas isolados, que tem uma única causa e que devem ser analisados separadamente.
Outro exemplo atual de uma vista dialética ou formal é o que encontramos atualmente na investigação sobre a morte de Paulo César Farias e Susana Marcolino, mortos no dia 23 de Junho de 1996, Domingo. Tudo, os depoimentos, a cena do crime, a investigação da polícia de Alagoas, o "esquema armado", os familiares, todos os supostamente envolvidos querem levar a investigação mais séria e especializada a crer que o motivo da morte do empresário e Susana tenha sido crime passional: Susana teria matado Paulo César Farias e depois teria matado a si mesma.
À medida que a investigação evolui, percebemos uma série de falhas no esquema montado para a morte do empresário, e, há hipóteses, muito prováveis de que este tenha sido um crime político.
Jeffrey Hoff, americano, numa entrevista concedida à Revista ISTO É, diante da pergunta feita pela Revista: "Como a polícia age diante da suspeita de crime político", diz: "Ela procura fechar o caso rapidamente. Na morte de PC, o delegado junta que a namorada dele comprou a arma com o fato de que ela estava ao lado dele na cama e deduz rapidamente a autoria. Se puder, o delegado mostrará que 1+1+1=3 e fechará o caso. Ele esquece que 2+1=3 ou que 4-1=3. Ou seja, despreza outras formas de chegar no mesmo total que, neste crime, são os dois corpos na casa da praia".47
O "vulgar-marxismo" separou a dialética como método, da história, dos problemas sociais, tirando assim todo o seu poder inventivo e construtivo. Gramsci resgata o aspecto de que a dialética não está separada dos problemas históricos e econômicos; economia, política, história formam um conjunto complexo que precisa ser compreendido à luz da dialética, esta é um modo de pensar diferente, uma crítica que vai contra o formal; a lógica dialética é uma antítese à formal
Segundo Norberto Bobbio, o uso marxista do termo "dialética" pode ser encontrado em Gramsci; tem dois significados fundamentais: "O significado de ação recíproca e o de processo por tese/antítese/síntese".48 O primeiro pode-se entender como uma relação; uma coisa tem influência sobre a outra. Aqui não há espaço para unilateralização, isto é, ver as coisas a partir de um ângulo somente, e nem, para "fatalismos" como: o homem é produto da estrutura econômica.
O segundo refere-se a movimento, isto é, processo de desenvolvimento. Em Hegel, tese, antítese e síntese é uma revolução dentro do pensamento: constitui a essência do movimento, do desenvolvimento.
Em Gramsci, o primeiro significado, aparece, por exemplo, nas expressões como: "dialética intelectuais/massa". Isto quer dizer que dentro do pensamento de Gramsci, intelectuais não estão separados da massa. Intelectuais e massa formam um conjunto; os intelectuais são representantes das massas, enquanto estas são a base de sustentação para que existam os chamados intelectuais. Intelectuais/massa relacionam-se mutuamente e um não pode existir sem a outra.
Outra expressão são os termos "estrutura/superestrutura". Estes nunca estão separados; a relação entre estrutura/superestrutura formam o que Gramsci chama "Bloco Histórico". A relação entre estes dois momentos do Bloco Histórico é um relação dialética: "O momento estrutural, pois ele é a base que engendra diretamente a superestrutura, que no início é apenas o seu reflexo; durante o período considerado, a superestrutura só poderá desenvolver-se e agir entre limites estruturais bem precisos: assim, a estrutura influi, constantemente sobre a atividade superestrutrual".49
Mais importante ainda, em Gramsci é o segundo significado "processo tese/antítese/síntese. Este significado é uma contraposição à concepção do linear desenvolvimento histórico; a história não desenvolve-se passivamente, linear, movida por idéias como afirma Hegel, mas é um desenvolvimento à base de contradições: movimento dialético.
A função do conceito de dialética é central dentro do pensamento de Gramsci. O conceito de dialética caracteriza o marxismo como uma nova filosofia, primeiramente frente ao "idealismo de Hegel"50, e depois, frente ao "materialismo vulgar"51 desenvolvido pelo vulgar marxismo.
Tanto o idealismo quanto o materialismo colocaram um quanto ponto na dialética: ambos propõe um quarto ponto, isto é, o fim do dinamismo dialético. Para o idealismo (Hegelianismo) chegaria a um momento em que não haveria mais nada para ser conhecido: através do homem, de sua consciência o espírito alienado tomaria consciência de si mesmo; haveria mais nada para conhecer, seria o fim da história! (Para Hegel, o mundo é alienação do espírito).
No materialismo (marxismo), a sociedade desenvolveria tanto que teríamos, em um determinado momento, uma sociedade perfeita: Comunismo. O capitalismo por si só, fatalisticamente culminaria neste modo de sociedade. Analisando estas duas concepções concluímos qeu ambas falham em um mesmo aspecto: a unilateralização. O "quarto ponto" significa o fim. Um sistema que se propõe ser científico tem necessidade de renovar-se sempre.
Gramsci tenta devolver, resgatar dentro do marxismo o seu caráter dialético: movimento, desenvolvimento infinito, contra o materialismo simplista, evolucionista de Bukhárin e a filosofia especulativa de Benedetto Croce.

2.5 – Os Intelectual "Orgânicos": as "Células da Sociedade"
Em Marx a relação estrutura/superestrutura provinha de um caráter puramente abstrato: a estrutura econômica determina a superestrutura. Gramsci fala de um "vínculo orgânico" entre estrutura e superestrutura. Vínculo este realizado pelos chamados intelectuais orgânicos.
Gramsci interpreta a sociedade civil como o complexo da superestrutura ideológica. Neste complexo mundo ideológico, isto é, das idéias se encontram os intelectuais que têm um formação e uma função específica dentro da sociedade civil, dentro de um determinado "bloco histórico".
A questão dos intelectuais é uma das mais importantes, desenvolvidas pelo autor em sua obra, pois se trata de um grupo que tem em mãos o "poder" ou "privilégio" ou "força de direção" dentro de um determinado grupo social, capaz de condução de uma sociedade.
Gramsci como já foi dito, desenvolve a filosofia da Práxis em oposição à filosofia especulativa de Benedetto Croce. Semelhante ocorre com a questão dos intelectuais. "Croce e Gentile, pretenderam representar a alta cultura"52, assim o intelectual é um grupo superior e separado do meio popular. O intelectual marxista segundo a concepção de Gramsci é o intelectual "orgânico", isto é, aquele que nasce, cresce, movimenta-se dentro das bases; representa as bases e não perde o vínculo de ligação entre ele, o intelectual, e o grupo que representa; compartilha dos problemas enfrentados pela sociedade e tenta interpretá-los, difundindo assim sua ideologia para que esta se torne cada vez mais hegemônica.
Diz Gramsci: "Toda relação hegemônica é uma relação pedagógica". Pedagogo é aquele que acompanha, ensina, caminha junto. Nesta expressão Gramsci quer ressaltar o significado particular que o termo "intelectuais" adquiriu em sua obra; intelectuais são as "células vivas" dentro de um organismo ou organização chamada sociedade.
A questão dos intelectuais é muito abrangente na obra de Gramsci, a começar pela própria formação.
Na filosofia, é muito difícil separar o filósofo do não filósofo, assim também acontece com os intelectuais: "Deve destruir-se o preconceito, muito difundido, de que a filosofia é algo de muito difícil pelo fato de ser a atividade intelectual própria de uma determinada categoria de especialistas ou filósofos profissionais e sistemáticos"53. Gramsci fala aqui de uma filosofia "espontânea, livre" que é comum a todos. Esta filosofia está contida na linguagem, (que não é formada por palavras vazias mas todas têm um significado); no senso comum; na religião popular, etc... Todos somos filósofos, cada um à sua maneira, porque na nossa linguagem, que é significativa, está implícita um concepção de mundo, isto é, uma ideologia. Assim, contribuímos com o crescimento do grupo social.
Nem sempre é fácil ter uma concepção de mundo que seja própria; normalmente aceita-se uma que já é tradicional ou que seja criada ou imposta por uma outra pessoa ou assume-se a do grupo social em que vive. É preferível que se continue assim "ou é preferível elaborar a própria concepção do mundo, ser guia de si mesmo e não aceitar passiva e dolentemente que nossa personalidade seja formada a partir de fora".54 Não vamos aprofundar esta questão aqui mas, podemos dizer que Gramsci aponta para uma análise crítica da própria concepção de mundo que significa criar uma "consciência do que realmente somos"55; isto contribui para a formação de uma nova cultura, novos costumes, novos valores mais convincentes com a realidade. Criar nova cultura também não significa sempre e só descobrir coisas novas mas, sobretudo, socializar as já existentes para que sejam purificadas pela prática.
O intelectual é aquele que faz novas descobertas mas também tenta difundi-las analisando-as criticamente. A atitude crítica, e o apontamento de soluções viáveis frente aos problemas fazem parte da personalidade do intelectual.
Como todos somos filósofos, cada um à sua maneira, também todos somos intelectuais, cada um à sua maneira. Aqui estamos falando de "intelectuais em geral" mas também é preciso distinguir que todos somos intelectuais mas nem todos exercem a função de intelectuais como dirigente, no sentido gramsciniano. Não há como separar o Homo faber (trabalhador) do Homo Sapiens (sábio) porque em tudo o que se faz exige um mínimo de intelectualidade; um robô é capaz de fazer isto, mas por si só não tem capacidade de ir além do que está programado. O homem com sua intelectualidade é capaz de aperfeiçoar-se. "Quando se estabelece uma distinção entre intelectuais e não intelectuais, faz-se na realidade referência ao imediato exercício social de categoria profissional dos intelectuais"56; na verdade, o não intelectual não existe. Em qualquer profissão: artista, filósofo, lavrador, operário, político há uma atividade intelectual, e em cada uma destas categorias o homem participa de uma concepção de mundo e observa uma conduta moral própria; cada um participando para permanência ou para o surgimento de novas idéias, novas concepções. O desafio maior para o indivíduo é ir além das concepções impostas pelo grupo. Resumindo poderíamos dizer que a intelectualidade se manifesta em todos mas nem todos desenvolvem esta capacidade.
Aqui chegamos no auge da questão dos intelectuais que é a formação. Diz Gramsci: "O problema de criar um novo tipo de intelectual radica-se no fato de desenvolver criticamente a manifestação intelectual - que em todos existe, num certo grau de evolução -, modificando a sua relação com o esforço muscular-nervoso num novo equilíbrio e conseguindo que este, como elemento de atividade prática geral que renova perpetuamente o mundo físico e social, se converta no fundamento de uma nova e integral concepção do mundo"57.
Quando falamos em formação nos deparamos com a questão pedagógica. A escola é a encarregada principal para a formação dos intelectuais. Nesta, a criança se desenvolve, desenvolve sua capacidade intelectual bem como a capacidade de direção, criação de novas concepções, novas visões e difusão das mesmas. A escola, se bem utilizada é o melhor meio de transformação ou conservação de uma sociedade, dos seu costumes, cultura e moral. Aqui está a principal formação dos intelectuais. "Quanto mais extensa é a área escolar e mais abundantes são os graus superiores de ensino de um determinado estado, mais vigorosa é a sua esfera cultural e a sua forma de sociabilidade"58. Isto também pode ser aplicado ao campo tecnológico industrial: quanto mais é a tecnologia que um país domina, melhor é o padrão de vida, economia, cultura de sua população.
Podemos voltar aqui ao tema central deste trabalho que é apontar Gramsci como uma alternativa para o marxismo tradicional; neste, em nenhum momento percebemos a importância de intelectuais (células vivas), da questão pedagógica e do desenvolvimento tecnológico. Gramsci, ao contrário, valoriza estes elementos, pois sabe que uma sociedade não é formada por "receitas exatas", por "ingredientes", isto é, determinista ou mecanicista; a sociedade precisa de direção e isto se faz com uma elevação da cultura, melhor educação do grupo e muitos outros elementos enfatizados por Gramsci. Disto decorre uma elevação cultural, moral-ética e tecnológica.

2.5.1- A função dos intelectuais
De certa forma a função dos intelectuais vem aparecendo ao longo deste trabalho, principalmente quando abordamos a questão das ideologias em Antônio Gramsci e a questão do intelectual "orgânico".
"Orgânico" é aquele que está junto, trabalha em conjunto, movimenta-se, relaciona-se com aqueles que representa; não está separado. Os intelectuais não formam um grupo a parte. Os intelectuais são encarregados pela elaboração e pela difusão das novas concepções de mundo, das novas ideologias. Sendo assim, a principal função do intelectual, além de ser a de elaborar novas idéias, é ser o elo de ligação entre estrutura e superestrutura ideológica. Esta última só é válida se for "historicamente orgânica, isto é, necessária a uma certa estrutura"59. Dizendo de outra forma, uma ideologia só é válida se for historicamente orgânica, necessária, que nasceu com um objetivo. Assim como uma ideologia também são os intelectuais: se não movimentarem-se organicamente, a exemplo de um organismo, na concepção de Gramsci, serão inúteis, sem nenhuma validade; as ideologias que produzem terão o mesma validade, isto é, nenhuma. Isto porque não tem vínculo orgânico; o intelectual perde o seu sentido. As ideologias produzidas pelos intelectuais desligados das massas são qualificadas por Gramsci de "elocubraçõezinhas individuais"60
Intelectuais, em Gramsci, está intimamente ligado com o conjunto de sua teoria, em especial, o conceito de hegemonia. Intelectuais e hegemonia relacionam-se mutuamente, ou melhor, os intelectuais são "funcionários" de uma classe que aspire à hegemonia, à direção. O intelectual, além de formular a ideologia da classe que representa, é encarregado de sua difusão, para que a ideologia se torne hegemônica.

PARTE III

GRAMSCI E A ESCOLA
O pensamento do autor que estamos estudando é muito amplo e poderia ser abordado sob diversos aspectos. Cada tema "conceito" abordado até aqui, todos merecem muito maior atenção.
Esta parece ser uma das questões mais importantes tratadas por Gramsci, além de ser um pensamento pouco levado em conta dentro do marxismo. Reservamos a última parte para estudar esta questão por ser a mais abrangente e que envolve, de uma maneira ou de outra, todas as partes estudadas até aqui.
Um dos questionamentos principais que aparece ao estudar esta questão é: a escola tem ou não em mãos uma grande força de transformação social. Como a escola está interligada com a economia, política, cultura (elevação cultural de um povo)...
Alguns estudiosos do marxismo vêm a escola com um certo desprezo, pois afirmam que à escola está reservada a função de reproduzir as desigualdades sociais, na medida em que contribui para a reprodução da ideologia das classes dominantes.
Gramsci tem uma visão mais positiva com relação à escola: acredita que ela pode ser transformadora de uma sociedade à medida que proporciona às classes meios iniciais para uma posterior organização e até a capacidade de governar. Isto só acontece depois de um longo caminho de luta e tomada de consciência. A escola, segundo Gramsci pode trazer um esclarecimento que contribui para a elevação cultural das massas.
A permanência de uma classe na direção de uma sociedade é ela ter conseguido fazer com que seu pensamento se torne senso comum. Este carrega em si uma determinada concepção de mundo que pode ser ocasional (folclore, crendices...) ou coerente e hegemônica. Uma concepção de mundo coerente e hegemônica, unitária, é formada de uma maneira crítica e consciente que proporciona a participação ativa e consciente na construção da história e do mundo. Para passar de uma visão à outra (elevar-se) é preciso examinar criticamente a concepção de mundo que se tem.
Os intelectuais orgânicos são as "células vivas" dentro da comunidade; a escola é a principal encarregada de sua formação. O intelectual tem a missão de formular e levar até às massa e difundir as ideologias, elevando assim o nível cultural. O intelectual representa a união entre teoria e prática. "O intelectual tem por função homogeneizar a concepção do mundo da classe à qual está organicamente ligado, isto é, positivamente de fazer corresponder esta concepção à função objetiva desta classe numa situação historicamente determinada ou, negativamente, de a tornar autônoma, expulsando desta concepção tudo o que lhe é estranho. O intelectual não é, pois, o reflexo da classe social: ele desempenha um papel positivo para tornar mais hegemônica a concepção naturalmente heteróclita desta classe".61
É muito importante o modo de ação das "células da sociedade": "não se cansar jamais de repetir os próprios argumentos (variando literariamente a sua forma): a repetição é o meio didático mais eficaz para agir sobre a mentalidade popular"; 62 trabalhar para que surjam intelectuais diretamente das massas. Aqui parece estar uma das melhores estratégias para um trabalho popular deixado pôr Gramsci. Percebemos a eficiência de tal estratégia, por exemplo, na propaganda: no objetivo de vender um produto, repete-se inúmeras vezes a mesma coisa até isto ficar gravada na mente da pessoa. Tem também um ditado popular que diz: "Uma mentira repetida várias vezes se torna verdade". Não estamos dizendo com isto que o intelectual deva repetir várias vezes uma mentira para torná-la verdade, mas deve transmitir inúmeras vezes (variando a forma para não tonar-se como um "disco furado") a verdade, a justiça; consciente de que o que está fazendo seja o melhor, seja a sua máxima contribuição para a elevação cultural de um povo. A relação intelectual-massa é uma relação pedagógica, de ensino-aprendizagem.
Esta relação é semelhante a que acontece na sala-de-aula: "o professor bom" nunca se considera formado, acabado, pronto; isto também porque a realidade, o conhecimento está em contínua mudança; a realidade não é estática; ela exige aperfeiçoamento constante. Assim também ocorre com o intelectual no meio da massa: ele nunca deve considerar-se "pronto", perfeito, mas sempre tem algo a mais para aprender do povo e para ensinar-lhe.
Ao falar deste "meio didático" Gramsci estava certamente referindo-se à política (partidos políticos). Hoje percebemos a necessidade de planos, estratégias, meios didáticos eficientes nos mais diversos trabalhos. Especialmente a Igreja em seu trabalho pastoral pode aprender muito de Antônio Gramsci; para a eficiência na divulgação dos ideais cristãos. Hoje mais do que nunca sentimos o quanto o povo está disperso, necessitado de um esclarecimento, uma direção, um sentido para sua vida, um significado para as coisas... Mesmo na moderna educação fala-se muito em planos, planejamento de ensino, plano de aula, plano de unidade... Tudo isto visando um melhor aproveitamento, um melhor aprendizado, uma melhor formação.

3.1 – O Pensamento Pedagógico de Gramsci
É difícil distinguir em Gramsci o que é pensamento político e o que é pedagógico. De seu pensamento brota uma dimensão pedagógica. A ação dos intelectuais no meio das massas deve ser a tentativa de elevar as consciência: elevando-lhes do senso comum à consciência filosófica. Esta elevação acontece através de um processo de reforma intelectual e moral; esta reforma caminha junto com a economia e a política. Isto percebemos quando Gramsci diz que a relação entre intelectuais-massa deve ser uma relação pedagógica.
Em sua crítica que faz à organização escolar de sua época, defende a escola única inicial de cultura geral, humanista, formativa.
Devido às atividades práticas, a evolução científica, na moderna civilização foram-se criando duas escolas: humanista e profissionalizante. A primeira (segue métodos tradicionais antigos) é destinada a desenvolver a cultura geral, o pensamento, saber orientar-se na vida. A segunda era destinada aos trabalhadores; visavam sua profissionalização. Logo, temos uma escola para cada grupo social
"A tendência, hoje é a de abolir qualquer tipo de escola "desinteressada" (não imediatamente interessada) e "formativa", ou conservar delas tão-somente um reduzida exemplar destinado a uma pequena elite de senhores e de mulheres que não devem pensar em se preparar para um futuro profissional, bem como a de difundir cada vez mais as escolas profissionais especializadas, nas quais o destino do aluno e sua futura atividade são predeterminados. A crise terá uma solução que, racionalmente, deveria seguir esta linha: escola única inicial de cultura geral, humanista, formativa, que equilibre equanimemente o desenvolvimento da capacidade de trabalhar manualmente (tecnicamente, industrialmente) e o desenvolvimento das capacidades de trabalho intelectual. Deste tipo de escola única, através de repetidas experiências de orientação profissional, passar-se-á a uma das escolas especializadas ou ao trabalho produtivo".63
Um dos pontos importantes da organização prática da escola unitária é relacionado ao desenvolvimento intelectual-moral dos alunos e com os objetivos que a própria escola visa atingir com tal organização. A escola deveria proporcionar aos jovens uma autonomia na orientação e na iniciativa. Este tipo de organização escolar requer que o estado assuma as despesas dos escolares, tendo assim, que reformular o seu orçamento quanto à educação. "... a inteira função de educação e formação das novas gerações torna-se, ao invés de privada, pública, pois somente assim pode ela envolver a todas as gerações, sem divisões de grupos ou castas".64 Isto requer também uma reformulação dos estabelecimento de ensino. Deveria ser uma escola, com dormitórios, refeitórios, bibliotecas especializadas, salas aptas ao trabalho de seminários etc..
A preocupação de Gramsci gira em torno da igual formação a que todos deveriam ter acesso.
Uma primeira dificuldade prática com a qual Gramsci se depara é: Nem todos têm o mesmo nível cultural que recebeu da família. As crianças provêm de lugares diferentes, isto é, um é filho de um camponês, outro mora na cidade.... O projeto para a solução deste problema é a pré-escola. Este seria um lugar para familiarizar-se com um padrão cultural antes de entrar na escola unitária. Depois disto a criança estaria apta para entrar na escola. Este tipo de escola visa não reproduzir a sociedade existente mas, proporcionar uma igualitária e acessível a todos.
Uma das crítica mais severas feitas por Gramsci ao sistema escolar é sobre a reforma feito por Giovani Gentile.65 Esta provoca a separação entre a escola elementar e media por um lado, e, de outro, a superior. Portanto, visa a perpetuação das desigualdade sociais. Não se distingue em nada da escola tradicional, pelo contrário, acentua ainda mais as diferenças sociais, devida à multiplicação das escolas profissionalizantes. "A multiplicação de tipos de escola profissional, portanto, tende a eternizar as diferenças tradicionais; mas, dado que ela tende, nestas diferenças, à criar estratificações eternas, faz nascer a impressão de possuir uma tendência democrática. Por exemplo: operário manual e qualificado, camponês e agrimensor ou pequeno agrônomo etc. Mas a tendência democrática, intrinsecamente, não pode consistir apenas em que um operário manual se torne qualificado, mas em que cada cidadão possa se tornar governante e que a sociedade o coloque, ainda que abstratamente, nas condições gerais de poder fazê-lo: a democracia política tende a fazer coincidir governantes e governados (no sentido de governo com o consentimento dos governados), assegurando a cada governado a aprendizagem gratuita das capacidade e da preparação técnica geral necessária a fim de governar".66
Gramsci critica a escola profissionalizante, por que esta tira a possibilidade do jovem formar-se intelectual e culturalmente, tirando assim também a possibilidade de ser dirigente, dirigir-se, ter autonomia, ter capacidade de governar. Tal trabalho - de governo - segundo a reforma de Gentile ficaria a cargo de um grupo seleto, isto é, dos que passam pela escola superior. Por isso, esta reforma está destinada a reproduzir a sociedade existente. Não há democracia numa tal proposta de reforma.
Aconteceria o contrário na escola unitária; lá todos teriam a mesma formação, a mesma oportunidade, e o estado está encarregado de dar-lhes isto.

3.2 – A Escola e a Introdução dos Cidadãos na Vida Estatal e na Sociedade Civil: os Direitos e os Deveres
Na crítica a Gentile, Gramsci reflete sobre a escola elementar italiana anterior a esta reforma, tentando resgatar alguns aspectos positivos: na formação e educação das crianças dois elementos fazem parte, na escola elementar: noções de ciências naturais e as noções de direitos e deveres. "As noções científicas deveriam servir para introduzir o menino na societas rerum (sociedade das coisas), ao passo que os direitos e deveres para introduzi-los na vida estatal e na sociedade civil".67 A primeira ajuda na elevação cultural das massas do senso comum, superstições, "religiosidades" baseada no folclore, a uma consciência filosófica. "As bases iniciais da elevação cultural das massas, devem e podem ser esperadas da escola, a quem cabe adequar o nível cultural da massa trabalhadora ao desenvolvimento das forças produtiva capitalistas e introduzi-las na ordem estatal e civil da sociedade burguesa moderna, tirando-as da barbárie".68
É, portanto, missão da escola proporcionar às classes subalterna uma visão do mundo natural e do mundo social que as ajude a se inserir nas relações sociais, política e culturais de uma sociedade moderna, isto, é uma sociedade em que as relações capitalista estão se expandindo. É preciso conhecer as leis civis e estatais em sua evolução histórica para saber, inclusive, que elas podem ser transformadas. A aquisição desses elementos de uma cultura moderna pelas massas das classes subalternas deve ter lugar na escola unitária que é possível e pela qual deve-se lutar na sociedade capitalista no contexto mais geral das lutas democráticas.
Nos textos de Gramsci é freqüente a preocupação com a contribuição da escola para a superação do folclore e das visões de mundo mágicas e religiosas não adequadas ao mundo industrial e à ordem capitalista moderna. Também aparece a preocupação de que cabe à escola incutir nos educandos noções sobre os direitos e deveres, sobre a ordem estatal e civil, sobre as leis civis e estatais que organizam a sociedade humana.
Tão importante quanto a alfabetização e as primeiras noções científicas que permitem conhecer a natureza de uma maneira não-mágica, não folclórica, são as noções sobre direitos e deveres, que constituem a cidadania, que permitem aos indivíduos das classes subalternas situarem-se na sociedade e diante do Estado. Essa é a função educadora positiva da escola.
Estas duas noções básicas são elementares primordiais de uma concepção do mundo. O acesso a esse código de direitos e deveres, o domínio desse código, é elemento primordial para uma futura evolução no sentido de uma visão de mundo coerente e homogênea que possa fazer face à hegemonia cultural e ideológica das classes dominantes. Para Gramsci, a elevação cultural das massas para adequá-las à modernização e ao crescimento das forças produtivas da sociedade capitalista tem repercussões contraditórias: o acesso aos códigos dominantes das quais a alfabetização é o primeiro passo, o conhecimento de direitos e deveres, e a capacidade de exigi-los podem educar também para a transformação da ordem e não apenas para o conformismo e a adesão.

CONCLUSÃO
O que deu grande impulso para a teoria de Marx foi ter ele presenciado na Inglaterra a miséria, a fome, menores trabalhando em troca de sua subsistência, enfim, ver toda a situação de exploração e precárias condições de vida, produtos da dupla Revolução e do capitalismo nascente.
No decorrer deste estudo procuramos responder à questão proposta "Gramsci: Uma Alternativa para o Marxismo? Depois de ter estudado o marxismo tradicional e o pensamento de Gramsci, depois de uma análise e comparação dos conceitos de um e de outro, concluímos por uma resposta afirmativa a esta questão: Gramsci constitui uma alternativa para o marxismo. Isto não significa que este estudo quer ser a última palavra neste assunto, mas quer ser uma tentativa de ressaltar a importância deste pensador que tem tido muita influência no Brasil, também no meio acadêmico, principalmente a partir da década de 60.
Gramsci direciona sua crítica mais ao rumo que o marxismo tomou depois de Marx, isto é, à cristalização da teoria marxista. Com isto, Gramsci reacende dentro do marxismo o conceito de revolução. A transformação – revolução – proposta por Gramsci é lenta, gradativa e sólida. A transformação social tem sua base no crescimento do nível cultural, na formação da consciência, na formação intelectual e moral. Isto explica a grande importância que Gramsci dá ao intelectuais orgânicos, o partido político e à escola como um lugar de formação intelectual e moral igual para todos.
Com certeza, Gramsci é muito atual, fala diretamente para a realidade brasileira, ou melhor, para todos os países não oferece educação para todos, tem um sistema escolar que reproduz as desigualdades sociais. Gramsci nos inspira a trabalhar para que todos tenham acesso à escola, ao desenvolvimento da consciência, ao desenvolvimento cultural.

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CHAUI. M., O que é Ideologia, p. 33.
2 ARANHA, M. L.A., Filosofia da Educação, p. 28.
3 FERREIRA, A. B. H., Novo Dicionário da Língua Portuguesa, verbete: Alienação.
4 Feuerback, L., A essência do Cristianismo, p. 27.
5 REALE, G. & ANTISERI, D., História da filosofia, p. 194.
6 LOGOS, Verbete: Materialismo Histórico
7 RDUNI, C. J., O Marxismo, p. 36.
8 NOGARE, P. D., Humanismos e Anti-Humanismos, p. 97.
9 REALE; G. & ANTISERI, D., História da Filosofia, p. 194.
10 Idem. p. 195.
11 NOGARE, P. D., Humanismos e Anti-humanismos, p. 98.
12 Sendo esta uma alienação, decorrente da alienação econômica, na concepção marxista, extinguindo a alienação econômica extinguir-se-á também a religião.
13 NOGARE, P. D., Humanismos e Anti-Humanismos, p. 99.
14 SANTOS, T. dos, Conceito de Classes Sociais, p. 7
15 Idem.
16 Este termo está sendo usado como sinônimo de movimento, mudanças e a evolução histórico-sociais. A luta de classes, na teoria marxista, tem o mérito de ser o sujeito deste processo.
17 CAPRA, F. O Ponto de Mutação, p.31.
18 MARX/ENGELS, Manifesto do Partido Comunista, p. 19.
19 Por Burguesia podemos entender a classe dos capitalistas modernos, proprietários dos meios de produção e empregadores de assalariados – ou, talvez seria mais adequado falarmos em grandes grupos capitalistas que dominam a economia mundial. Por Proletários entendemos a classe dos assalariados que, não tendo a propriedade dos meios de produção, são obrigados a vender sua força de trabalho em troca de sua subsistência.
20 REALE; G. & ANTISERI, D., História da filosofia, p. 199.
21 Sensismo é uma doutrina filosófica defendida por Estevão Condillac (1715-1780). Segundo esta doutrina as operações intelectuais provém unicamente das sensações. O sensismo afirma que não existem idéias inatas em nós.
Estevão Condillac desenvolveu o empirismo de John Locke num sentido sensista, isto é, toda experiência deriva da sensação.
Condillac imagina o homem como uma estátua, sem sensação, e que, a partir de um dado momento começa a ter uma sensação de olfato. Esta sensação torna-se memória. Vão ocorrendo também outras sensações. A lembrança das sensações gravadas na memória é a imaginação. Da sensação atual e da lembrança de sensações passadas, nasce a distinção entre presente e passado.
22 GRAMSCI, A., Introdução à Filosofia da Práxis, p. 85
23 Idem.
24 Estrutura e Superestrutura formam um "Bloco Histórico" e é considerado um dos elementos mais importantes dentro da teoria de Gramsci. O estudo das relações entre estrutura e superestrutura é o aspecto mais importante dentro do Bloco histórico (situação histórica global). Dentro de um Bloco Histórico, podemos distinguir de um lado uma estrutura social - classes que dependem diretamente da relação com as forças produtivas; por outro lado temos uma superestrutura ideológica e política. Há uma unidade muito grande entre estrutura e superestrutura ideológica. Este trabalho é realizado pelo grupo chamado Intelectuais Orgânicos.
25 GRAMSCI, A., Introdução à Filosofia da Práxis, P. 86.
26 Idem.
27 O principal determinismo que Gramsci combate é o pensamento de que o modo de pensar é determinado pela estrutura econômica.
28 Idem., Obras Escolhidas, p. 88.
29 PORTELLI, H., Gramsci e o Bloco Histórico, p. 24.
30 Idem. p. 24.
31 REALE; G. & ANATISERI, D., História da Filosofia, p. 827.
32 Idem. p. 828.
33 Idem.
34 Benedetto Croce nasceu em 1866 e morreu em 1952. Em suas obras escreveu sobre estética, lógica... A sua filosofia é baseada em Hegel, o que lhe confere o nome de Idealista.
35 GRAMSCI, A., Introdução à Filosofia da Práxis, p. 85.
36 Idem. p. 86
37 REALE, G. & ANTISERI, D., História da Filosofia, p. 832.
38 PORTELLI, H., Gramsci e o Bloco Histórico, p. 61.
39 REALE, G.& ANTISERI, D., História da Filosofia, p. 832.
40 PORTELLI, H., Gramsci e o Bloco Histórico, p 68.
41 REALE; G. & ANTISERI, D., História da Filosofia, p. 833.
42 Idem. p. 833.
43 PORTELLI, H., Gramsci e o Bloco Histórico, p. 30.
44 Marxismo vulgar, entende-se aqui o marxismo que atribui à história da Teoria Marxista um caráter fatalista, determinista; pondo, assim, um ponto final no caráter dialético da teoria marxista. Retomando a dialética, Gramsci retoma também o caráter científico do marxismo.
45 REALE; G. & ANTISERI, D., História da Filosofia, p. 831.
46 Os pré-socráticos Parmênides e Heráclito já se preocupavam com esta questão do "ser e do não ser". Esta discussão parece ser uma constante na história da filosofia, embora muitas vezes assuma outras formas.
47 Revista ISTO É, p. 6.
48 BOBBIO, N., O Conceito de Sociedade Civil, p. 65.
49 PORTELLI, H., Gramsci e o Bloco Histórico, p. 56.
50 O idealismo de Hegel também é dialético mas despreza o aspecto material.
51 O materialismo vulgar se caracteriza pela sua oposição ao idealismo mas falha como pensamento marxista por desconhecer o caráter dialético do marxismo.
52 REALE; G. & ANTISERI, D., História da Filosofia, p. 835.
53 GRAMSCI, A., Introdução à Filosofia da Práxis, p. 9.
54 Idem. p. 9.
55 Idem.
56 Idem., A Formação dos Intelectuais, p. 24.
57 Idem. p. 24.
58 Idem. p. 25.
59 PORTELLI, H., Gramsci e o Bloco Histórico, p. 84.
60 Idem. p. 86.
61 MOCHCOVITCH, L. G., Gramsci e a Escola, p. 18.
62 Idem. p. 19.
63 GRAMSCI, A., Os Intelectuais e a Organização da Cultura, p. 118.
64 Idem. p. 118.
65 A reforma de Gentile efetuada em 1923 pelo fascismo, permitiu o estabelecimento das escolas provadas, introduziu a religião no ensino primário e alargou o estudo do latim. Foi uma reforma conservadora vigorosamente atacada pôr Gramsci como podemos perceber no texto "Para a Investigação do Princípio Educativo - do livro Os Intelectuais e a Organização da Cultura".
66 MOCHCOVITCH, L. G., Gramsci e a Escola, p.55.
67 GRAMSCI, A., Os Intelectuais e a Organização da Cultura, p. 129.
68 MOCHCOVITCH, L. G., Gramsci e a Escola, p. 63.