terça-feira, 29 de novembro de 2011

Retirado do Livro Piedade e Paixão


Por Hernades Dias Lopes
Todos nós precisamos de modelos para viver. Aprendemos pela observação. Quando seguimos as pegadas daqueles que percorrem as veredas da probidade, visamos aos objetivos de uma vida bem-aventurada; porém, quando seguimos os modelos errados, colhemos os amargos frutos de uma dolorosa decepção. São referenciais e marcos balizadores em nosso caminho. Eles são como espelhos para nós. Quando olhamos para o espelho, vemos a nós mesmos. O espelho nos mostra quem somos e aponta-nos onde precisamos melhorar a nossa imagem. O espelho possui algumas características que lançam luz sobre a vida do pregador como um referencial para a igreja.

Em primeiro lugar, o espelho é mudo e nos mostra quem somos não pelo som, mas através da imagem. Ele não discursa, ele revela. Não alardeia, reflete. Assim deve ser o pregador. O seu sermão mais eloqüente não é o sermão pregado do púlpito, mas aquele vivido no lar, na igreja e na sociedade. Ele não prega apenas aos ouvidos, mas também aos olhos. Não prega apenas com palavras, mas sobretudo com vida e com exemplo. O exemplo não é apenas uma forma de ensinar, mas A única forma eficaz.


Em segundo lugar, o espelho deve ser limpo. Um espelho embaçado e sujo não pode refletir a imagem com clareza. Quando o pregador vive uma duplicidade, quando usa máscaras vivendo como um ator, quando fala uma coisa e vive outra, quando há um abismo entre o que professa e o que pratica, quando os seus atos reprovam as suas palavras, então ficamos confusos e decepcionados. Um pregador impuro no púlpito é como um médico que começa a fazer uma cirurgia sem fazer assepsia das suas mãos. Ele causará mais mal do que bem.


Em terceiro lugar, o espelho precisa ser plano. Um espelho côncavo ou convexo distorce e altera a imagem. Precisamos ver no pregador um exemplo de vida ilibada e irrepreensível. O pecado do líder é mais grave, mais hipócrita e mais danoso em suas conseqüências. Mais grave porque os pecados do mestre são os mestres do pecado. É mais hipócrita porque ao mesmo tempo em que ele combate o pecado em público, ele o pratica em secreto. Ao mesmo tempo que o condena nos outros, capitula-se à sua força e o abriga no coração. É mais danoso em suas conseqüências porque o líder, ao pecar contra um maior conhecimento, sua queda torna-se mais escandalosa. Quanto maior uma árvore, maior é o estrondo da sua queda. Quanto mais projeção tiver um líder, maior será a decepção com o seu fracasso. Quanto mais amada for uma pessoa, maior poderá ser a dor se ela destruir com suas próprias mãos o referencial em que ela investiu toda uma vida para nos ensinar.


Finalmente, o espelho precisa ser iluminado. Sem luz podemos ter espelho e olhos, mas ainda assim ficaremos imersos em trevas espessas. Deus é luz. Sua palavra é luz. Sempre que um líder afasta-se de Deus e da sua Palavra, a sua luz apaga-se e todos aqueles que o miravam como um alvo, ficam perdidos e confusos. Os mourões que sustentam os valores da sociedade estão caindo. As cercas estão se afrouxando. Os muros da nossa civilização estão quebrados e as portas de proteção e liberdade estão queimadas a fogo. Estamos expostos a toda sorte de influencias destrutivas, porque os nossos referenciais estão fracassando.


A crise avassaladora que atinge a sociedade, também alcança a igreja. Embora estejamos assistindo a uma explosão de crescimento da igreja evangélica brasileira, não temos visto a correspondente transformação na sociedade. Muitos pastores, no afã de buscar o crescimento de suas igrejas, abandonam o genuíno evangelho e se rendem ao pragmatismo prevalecente da cultura pós-moderna. Buscam não a verdade, mas o que funciona; não o que é certo, mas o que dá certo. Pregam para agradar os seus ouvintes e não para levá-los ao arrependimento. Pregam o que eles querem ouvir e não o que eles precisam ouvir. Pregam um outro evangelho, um evangelho antropocêntrico, de curas, milagres e prosperidade, e não o evangelho da cruz de Cristo. Pregam não todo o conselho de Deus, mas doutrinas engendradas pelos homens. Pregam não as Escrituras, mas as revelações de seus próprios corações.


O resultado desse semi-evangelho é que muitos pastores e pregadores passam a fazer do púlpito: um balcão de negócios, uma praça de barganhas, onde as bênçãos e os milagres de Deus são comprados por dinheiro. Outros, passam a governar ovelhas de Cristo com dureza e rigor. Encastelam-se no topo de uma teocracia absolutista e rejeitam ser questionados. Exigem de seus fiéis uma obediência subserviente e cega. O resultado é o que o povo de Deus perece por falta de conhecimento e de padrões.


A crise teológica e doutrinária deságua na crise moral. Nessa perda de referenciais, muitos líderes têm caído nas armadilhas insidiosas do sexo, do poder e do dinheiro. A crise moral na vida de muitos pastores brasileiros tem sido um terremoto avassalador. Muitos ministros do evangelho que eram considerados modelos e exemplos para suas igrejas têm sucumbido na vida moral. Muitos líderes de projeção nacional têm naufragado no casamento. Não poucos são aqueles que têm dormido no colo das Dalilas e acordado como Sansão, sem poder, sem dignidade, sem autoridade, ficando completamente subjugados pelas mãos do inimigo. A cada ano cresce o número de pastores que naufragam no ministério por causa de sexo, dinheiro e poder. É assustador o número de pastores que estão no ministério, subindo ao púlpito a cada domingo, exortando o povo de Deus à santidade, combatendo tenazmente o pecado e ao mesmo tempo vivendo uma duplicidade, uma mentira dentro de casa, sendo maridos insensíveis e infiéis, pais autocráticos e sem nenhuma doçura com os filhos. Há muitas esposas de pastor vivendo o drama de ter um marido exemplar no púlpito e um homem intolerante dentro de casa. Há muitos pastores que já perderam a unção e continuam no ministério sem chorar pelos seus próprios pecados. Não são poucos aqueles que em vez de alimentar o rebanho de Cristo, têm apascentado a si mesmos. Em vez de proteger o rebanho dos lobos vorazes, são os próprios lobos vestidos de toga. Charles Spurgeon dizia que um pastor infiel é o melhor agente de satanás dentro da igreja.


O número de pastores e líderes que estão abandonando o lar, renegando os votos firmados no altar, divorciando-se por motivos banais, não permitidos por Deus, e casando-se novamente é estonteante. Esta perda de referencial é como um atentado terrorista contra a igreja de Deus. Ela produz perdas irreparáveis, sofrimento indescritível, choro inconsolável e feridas incuráveis. O pior é que o nome de Deus é blasfemado entre os incrédulos por causa desses escândalos.


A classe pastoral está em crise. Crise vocacional, crise familiar, crise teológica, crise espiritual. Quando os líderes estão em crise a igreja também está. A igreja reflete os seus líderes. Não existem líderes neutros. Eles são uma benção ou um entrave para o crescimento da igreja.


A crise pastoral é refletida diretamente no púlpito. Estamos vendo o empobrecimento dos púlpitos. Poucos são os pastores que se preparam convenientemente para pregar. Há muitos que só preparam a cabeça, mas não o coração. São cultos, mas são vazios. São intelectuais, mas são áridos. Têm luz, mas não tem fogo. Têm conhecimento, mas não têm unção. Pregadores rasos e secos pregam sermões sem poder para auditórios sonolentos. Se quisermos um reavivamento genuíno na igreja evangélica brasileira, os pastores são os primeiros que terão que acertar suas vidas com Deus.


É tempo de orarmos por um reavivamento na vida dos pastores. É tempo de pedirmos a Deus que nos dê pastores segundo o seu coração. Precisamos de homens cheios do Espírito, de homens que conheçam a intimidade de Deus. John Weslwy dizia: “Dá-me cem homens que não amem ninguém mais do que a Deus e que não temam nada senão o pecado, e com eles eu abalarei o mundo”.


Quando o pastor é um graveto seco que pega o fogo do Espírito, até lenha verde começa a arder.


Retirado do Livro Piedade e Paixão

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