quinta-feira, 8 de agosto de 2013

É BÍBLICO O BATISMO INFANTIL?

Por Gilson Barbosa


Quando Deus chamou Abraão fez promessas que ultrapassariam as barreiras étnicas de Israel: “Em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Genesis 12:3b). Essa promessa refere-se ao plano de Deus para a salvação do mundo. Ainda que Deus tenha escolhido Israel como nação para representa-lo entre as demais, Israel desobedeceu e tornou-se descrente no Senhor: “Não que a palavra de Deus haja faltado, porque nem todos os que são de Israel são israelitas; Nem por serem descendência de Abraão são todos filhos; mas: Em Isaque será chamada a tua descendência. Isto é, não são os filhos da carne que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa são contados como descendência”. (Romanos 9:6-8).

Os filhos da promessa somos nós, a Igreja invisível de Cristo. Esta, é o Israel espiritual de todos os tempos unidos com Ele: “E, se sois de Cristo, então sois descendência de Abraão, e herdeiros conforme a promessa”. (Gálatas 3:29). O apóstolo Paulo ao avisar os filipenses sobre os falsos mestres que enfatizavam o rito exterior e físico da circuncisão afirmou: “Porque a circuncisão somos nós, que servimos a Deus em espírito, e nos gloriamos em Jesus Cristo, e não confiamos na carne”. (Filipenses 3:3). Há uma continuidade linear do plano eterno de Deus, que inclui tanto a nação de Israel como os estrangeiros. Em Efésios 2:11-19 Paulo lembra que gentios e judeus são unidos por Deus mediante a cruz de Cristo. Não há dois povos, não há um plano divino para cada um, não há frustração em Deus por Israel não manter o compromisso da Aliança. O que há são apenas administrações diferenciadas. A Igreja cristã é o Israel do Antigo Testamento. No discurso de Estevão isso fica claro quando ele diz que Moisés esteve entre a congregação no deserto (Atos 7:38). A expressão congregaçãoé eklesia; a mesma usada para falar da Igreja de Cristo. Isso não significa necessariamente que Deus tenha desistido de salvar seus eleitos entre a nação de Israel.

Entendido que judeus e gentios foram unidos por Deus como seu único povo, devemos também compreender que as crianças fazem parte da família de Deus (Marcos 10:13-16). Jesus disse que dos tais é o Reino de Deus. Isso não significa garantia de regeneração ou salvação, mas sim um revestimento de especial importância dentro do plano salvífico. O texto bíblico diz que o Senhor Jesus as abençoou. Deus não é apenas o Deus dos adultos, mas das crianças, ou em outras palavras, dos nossos filhos.
No princípio Deus estabeleceu uma aliança com Abraão (Genesis 17:9-11) e instituiu o rito da circuncisão como herança espiritual: “Com efeito será circuncidado o nascido em tua casa, e o comprado por teu dinheiro; e estará a minha aliança na vossa carne por aliança perpétua” (Genesis 17:13). Apesar de ser um rito físico a circuncisão era uma espécie de sinal de salvação para Abraão; isto não anula nem precede a fé de Abraão nas promessas do Senhor: “E recebeu o sinal da circuncisão, selo da justiça da fé quando estava na incircuncisão, para que fosse pai de todos os que creem, estando eles também na incircuncisão; a fim de que também a justiça lhes seja imputada” (Romanos 4:11). A circuncisão tinha sentido de limpeza espiritual interna: “E o Senhor teu Deus circuncidará o teu coração, e o coração de tua descendência, para amares ao Senhor teu Deus com todo o coração, e com toda a tua alma, para que vivas” (Deuteronômio 30:6). Ela era um sinal externo para denotar uma realidade essencial e interna. Circuncidar o menino significava introduzi-lo nas bênçãos da aliança. As meninas não possuíam um ritual de circuncisão, pois numa sociedade patriarcal como a de Israel, a mulher era representada pelo homem.
Nos tempos modernos qual é o sinal de que a pessoa faz parte da comunidade visível de Cristo? Qual é o símbolo que denota uma realidade espiritual interna? É o batismo. Os que são favoráveis ao batismo infantil enfatizam seu paralelo com a circuncisão. Embora não sejam idênticos possuem pontos cruciais em comum. Sproul afirma que ambos são sinais da aliança e sinais da fé. O batismo também possui o sentido de separação para uma vida santa, o que corresponde essencialmente ao mesmo sentido da circuncisão. Assim como a circuncisão o batismo não salva nem santifica por si mesmo, mas prepara a pessoa para receber esses resultados.  
Sabemos que na Igreja Cristã o batismo tomou o lugar da circuncisão. Nos casos onde pessoas receberam os dois elementos (circuncisão e depois o batismo) devem ser entendidos como aplicações em momentos e situações diferentes, e nisso não há contradição. No início em Israel o batismo com água era para prosélitos que quisessem professar o conjunto doutrinário dos judeus. Como é um símbolo externo de uma realidade interna também possui o sentido de limpeza; purificação (Atos 22:16; Tito 3:5). O batismo se torna um mandamento quando o Senhor Jesus ordena sua prática para os cristãos principiantes, em Mateus 28:19.
Se o batismo era para a Igreja, sabemos que as crianças também fazem parte da mesma e devem ser batizadas com base no mesmo entendimento da circuncisão: “Porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos, e a todos os que estão longe, a tantos quantos Deus nosso Senhor chamar” (Atos 2:39). Alguns indagam que isso excluiria as mulheres no batismo, mas, Cristo trouxe outro sentido a algumas práticas e comportamentos, portanto as meninas e mulheres podem ser batizadas tendo como perspectiva esse argumento: “Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gálatas 3:28).
Com base no argumento de que as crianças devem ser introduzidas nas bênçãos espirituais da Nova Aliança encontramos evidencias do batismo infantil na Bíblia Sagrada (Leia com atenção Atos 16:13-15; 16:30-34; 18:7,8; I Coríntios 1:14-16). É verdade que biblicamente não há uma ordem positiva explicitamente, mas não podemos nem devemos ignorar a realidade das evidencias e a coerência e vigência da Teologia da Aliança para a igreja atual.  
Algumas objeções ao batismo infantil não se sustentam, tais como:

- a criança não pode exercer fé pessoal e não possui consciência para tal.A isso respondemos que “no caso de Abraão, ele abraçou a fé depois de adulto e fez uma profissão de fé antes de ser circuncidado. Ele tinha fé antes de receber o sinal da fé. Seu filho Isaque, no entanto, recebeu o sinal da fé antes que tivesse a fé que o sinal simbolizava (como foi o caso de todos os outros filhos da aliança)”. Verdades essenciais da fé cristã, p. 17

- O batismo infantil viola a liberdade de escolha pessoal. Em certo sentido muitos prefeririam ter sua liberdade violada a padecer no inferno, você não acha? Ordenar aos nossos filhos sobre o que devem comer, vestir, fazer, etc, é um direito dos pais, assim como aplica-los o batismo, que os introduzem numa esfera de comunhão com o Senhor. Porém, isso não o exime de confessar sua fé livremente quando adulto.   

- Não se pode ter certeza da regeneração da criança. Da mesma forma que não se pode ter certeza da regeneração de um adulto também. Não acredito que se batizem pessoas crendo infalivelmente que são externamente regenerados.

- Não há mandamento expresso. Concordamos com esse fato, mas respondemos que “mais precisamente, o argumento bíblico para o batismo das crianças dos crentes se apoia no paralelo entre a circuncisão, do Antigo Testamento, e o batismo, do Novo Testamento, como sinais e selos da graça (Genesis 17:11; Romanos 4:11; Colossenses 2:11,12), e na alegação de que o princípio da solidariedade familiar na comunidade da aliança (a Igreja, como é agora chamada) não foi afetado pela transição da ‘velha’ para a ‘nova’ forma da aliança com Deus, realizada pela vinda de Cristo. As crianças dos crentes gozam do status de filhos da aliança e, portanto, devem ser batizadas, do mesmo modo que os filhos meninos dos judeus eram anteriormente circuncidados” (Bíblia de Estudo de Genebra, p. 34).
A apresentação de crianças: prática inusitada

A maioria das igrejas evangélicas se contrapõem a prática do batismo infantil e fazem nos cultos a apresentação de crianças. Constatamos, porém, que essa prática não é nem bíblica, nem teológica e nem doutrinária. Trata-se, obviamente, de uma ordenança arbitrária, impositiva e tendo como base a tradição. Felizmente temos pessoas sensatas dentro destes grupos evangélicos que não só sabem disso, mas alertam para o “perigo” dessa prática. Leia abaixo um trecho interessante do pastor assembleiano Vitor Gadelha sobre esse assunto:
Não raro os pastores que ministram a apresentação do bebê dizem que realizam o ato seguindo o modelo do Senhor Jesus, que também foi apresentado no templo (sendo muito comum a leitura da passagem correlata de Lucas 2.22).
É justamente esta transposição que é inadequada - a apresentação do Senhor Jesus no templo é um ato totalmente distinto da apresentação de bebês praticada pela igreja brasileira contemporânea.
Jesus foi apresentado no templo, ao oitavo dia, em cumprimento à exigência da lei mosaica de consagração (ou resgate) dos primogênitos (Êxodo 13.1, 11-14; Levítico 12.1-8). Sendo assim, a apresentação do Senhor Jesus:
1.       Era uma disposição cerimonial da lei judaica (veja Gálatas 4.4);
2.       Era um ato estendido a todos os primogênitos judeus (ou seja, Lucas 2.22-24 não cria um novo paradigma);
3.       Era um ato que envolvia a circuncisão (Levítico 12.3);
4.       Era um ato que exigia a purificação cerimonial da mãe (Levítico 12.1,4);
5.       Exigia a apresentação de dois animais como sacrifício (um como holocausto pelo pecado e outro como oferta para o pecado), que poderiam ser um cordeiro e uma pomba ou rolinha ou, no caso das famílias pobres, duas pombas ou rolinhas (como foi o caso da família de Jesus – veja Levítico 12.6-8 e Lucas 2.24).
Se continuarmos insistindo que a apresentação contemporânea de crianças segue os mesmos moldes da apresentação de Jesus no templo, então:
1.       Estaríamos afirmando a vigência da Lei cerimonial mosaica, com seus ditames sobre pureza cerimonial e sobre a circuncisão (Gálatas 3.23-25);
2.       Meninas não poderiam ser apresentadas no templo, e nem os filhos não-primogênitos;
3.       Algum tipo de oferta/sacrifício teria de ser exigido dos pais – algo inadmissível diante da Nova Aliança e do sacrifício perfeito de Cristo (Hebreus 9.11-15).
Ainda que pudesse ser “provado” que o batismo infantil não é bíblico, a apresentação de crianças é menos ainda; podemos dizer até mesmo que ela é antibíblica.
A responsabilidade dos pais no lar
O batismo infantil não salva as crianças nem lhes garante a salvação. Essa mesma verdade se aplica aos adultos. Outra verdade é a questão da confissão pública. Se uma criança não tem consciência para confessar sua fé e ser batizada, um adulto também enfrenta os mesmos obstáculos e o mesmo pode ser dito dele. Muitos adultos que fazem profissão de fé não têm convicção nem consciência do que está professando. Quem aplica eficazmente o batismo nos crentes é somente Deus.
Assim como a responsabilidade de Abraão não terminou com a circuncisão (Genesis 18:17-19) a dos pais de crianças batizadas também não se encerra após a cerimonia de batismo. Da mesma forma que a circuncisão, o batismo é um sinal da aliança em que os pais se comprometem a criar os filhos no amor e temor ao Senhor.
Que o Senhor nos dê graça para aceitarmos as diferenças!

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